Um grupo de pessoas de São Paulo se organizou para percorrer a cidade de São Paulo à noite, colocando um coração em diversas estátuas e em lugares onde havia alguém dormindo no chão.

Queriam, sem dúvida, colocar mais amor no cotidiano das pessoas, mas também chamar a atenção para olhar de forma diferente para os mesmos lugares. Estamos tão acostumados à rotina diária que nem percebemos a vida à nossa volta. Há coisas e pessoas que ficam invisíveis para nós, porque olhamos e não vemos.

 

Lembrei  do poema de Otávio Paz:

 

“Todos os dias atravessamos a mesma rua ou o mesmo jardim; todas as tardes nossos olhos batem no mesmo muro avermelhado, feito de tijolos e tempo urbano. De repente, num dia qualquer, a rua dá para outro mundo, o jardim acaba de nascer, o muro fatigado se cobre de signos. Nunca os tínhamos visto e agora ficamos espantados por eles serem assim: tanto e tão esmagadoramente reais. Não, isso que estamos vendo pela primeira vez já havíamos visto antes. Em algum lugar, no qual nunca estivemos, já estavam o muro, a rua, o jardim. Parece que nos recordamos e quereríamos voltar para lá, para esse lugar onde as coisas são sempre assim, banhadas por uma luz antiquíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer. Nós também somos de lá. Um sopro nos golpeia a fronte. Estamos encantados, suspensos no meio da tarde imóvel. Adivinhamos que somos de outro mundo”.

 

Octávio Paz, citado por Rubem Alves. In:  Folha de São Paulo de 5.01.2010.

 

 

Lucimara Trevizan

Equipe do Centro Loyola

15.11.2012