Se Eu Quiser Falar Com Deus
Gilberto Gil

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz

Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata
Dos desejos, dos receios

Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou

Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho

Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho
Alegrar meu coração

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar

Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que, ao findar, vai dar em nada

Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar

 

Manresa – Se eu quiser falar com Deus (Gilberto Gil)

Ainda no início da viagem à Jerusalém, Inácio de Loyola para em um vilarejo chamado Manresa, onde pretendia passar apenas alguns dias. No entanto, quis a providência que este fosse o local de sua mais profunda experiência mística e da sistematização de seu maior legado: os Exercícios Espirituais. Um dia, sentado à beira do rio Cardoner, Inácio viveu a singular experiência que marcaria profundamente sua vida: uma grande iluminação do Espírito, cujos efeitos mudariam totalmente seu modo de perceber o mundo e sua missão. Em Manresa, Inácio descobre que aquele que deseja falar com Deus, precisa aprender a “ficar a sós, apagar a luz, calar a voz”. É este também seu período de maior ascese e radicalidade.

04.08.23