Livro: Revelações do Amor Divino

Autora: Juliana de Norwish

Editora Paulus 2018

 

As Revelações do Amor Divino foram escritas a partir de dezesseis revelações (ou visões), recebidas por Juliana de Norwich, mística do século XV, cujos relatos se inserem na tradicional mística medieval inglesa, de autores como Richard Rolle e Margery Kempe. Seus relatos denotam a aflição típica da provação dos místicos, mas também grande alegria e êxtase pela sua especial condição, e discorrem sobre inúmeros aspectos religiosos e teológicos, tais como o mistério da divindade e da Trindade, o amor de Deus, o conceito de pecado e de alma e a metáfora de Jesus como nossa mãe. 

 

As revelações do Amor Divino, de Juliana de Norwich

Em 1º de dezembro de 2010, o papa Bento XVI dedicou sua audiência geral de quarta-feira a uma catequese sobre a mística inglesa Juliana de Norwich (c. 1342-1430), dando especial relevo à obra Revelações do amor divino, recentemente publicada pela Paulus em tradução de Marcelo Maroldi. Juliana não foi canonizada pela Igreja, porém, nas palavras do próprio papa, é “venerada tanto pela Igreja Católica como pela Comunhão Aglicana”. Viveu como reclusa numa cela contígua à Igreja de São Juliano, na cidade de Norwich (Inglaterra), segundo uma regra de vida escrita para mulheres chamadas a uma vida inteiramente dedicada à oração, ao estudo e ao trabalho, sem, contudo, integrar uma comunidade religiosa. As reclusas também podiam receber pessoas que as procuravam em busca de conselhos e direção espiritual, tornando-se “mães espirituais” para muitos.

As revelações do amor divino são fruto de uma experiência mística que Juliana teve após grave enfermidade que a acometeu quando contava perto de 30 anos. Depois da visita de um sacerdote, que a abençoou com um Crucifixo, ela recebeu o milagre de uma cura instantânea e as 16 revelações que, embora tenham constituído um breve escrito preliminar, anos mais tarde foram interpretadas e comentadas por ela, sob o influxo do Espírito Santo, num texto maior. Como afirma Bento XVI, a obra de Juliana consiste numa “mensagem de otimismo fundado na certeza de sermos amados por Deus e de sermos protegidos pela sua Providência”. Para ilustrar essa constatação, o Santo Padre cita um trecho da 16ª revelação, que sintetiza o espírito das revelações: “Vi com certeza absoluta que, ainda antes de nos criar, Deus nos amou com um amor que nunca esmoreceu, e jamais faltará. E foi nesse amor que Ele realizou todas as suas obras, foi nesse amor que Ele fez com que todas as coisas nos fossem úteis, e é nesse amor que a nossa vida dura para sempre. Nesse amor nós temos o nosso princípio, e veremos tudo isso no Deus Infinito”.

As revelações manifestam uma complexa teoria do pecado e da graça, da queda e da redenção, segundo a qual, em Deus, a misericórdia ultrapassa a justiça. A criatura decaída, objeto da misericórdia e da redenção, é vista com positividade na obra, sendo o pecado e o demônio o objeto da ira de Deus. Nesse sentido, o amor divino é comparado ao amor da mãe pelo filho: amor incondicional do Criador pela criatura frágil e pecadora.

De um ponto de vista escatológico, na quinta revelação Juliana vê o demônio e o pecado sendo derrotados “pela feliz paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi cheia de seriedade e com soberano esforço”. Será então uma ocasião de eterna alegria para a humanidade, que finalmente poderá desfrutar da visão beatífica do Criador: “No Dia do Juízo, [o demônio] será desprezado por todos os que serão salvos, de cujo conforto ele tem grande hostilidade. Pois então ele verá que toda a aflição e tribulação que lhes causou serão convertidas em aumento da alegria deles, infinitamente. E todas as dores e tribulações que ele desejava neles provocar irão com ele para o inferno, eternamente”.

Tiago José Risi Leme

Graduado em Letras (Português/Francês) pela Universidade de São Paulo,

e coordenador de revisão da PAULUS Editora e tradutor.