MOSTRA COLETIVA DO ATELIER DO JAMBREIRO

das artistas Aline Lage, Maria Inês Oliveira, Edelcy Seabra e Tânia Caçador

 

Local Exposição: Passo das Artes do Colégio Loyola

Av. do Contorno, 7919 - Cidade Jardim

Período: 15 de março a 02 de abril de 2012

 

O artista visual é uma pessoa que dedica sua vida à observação cuidadosa do mundo, retirando dele aquilo que julga singular para traduzi-lo, de maneira muito própria, à humanidade. Seria mais ou menos assim: quando o artista olha para uma paisagem, um objeto ou uma pessoa, por exemplo, percebe neles alguma coisa que lhe chama a atenção. Ele continua a olhar e o objeto parece dizer algo. Surge uma necessidade enorme de exprimir o diálogo silencioso que se estabelece entre ele e o objeto observado. Inicia-se o processo de criação. O artista vai para o atelier e escolhe a técnica mais adequada para expressar seus pensamentos e sentimentos: desenho, pintura, escultura, gravura... O trabalho sai do plano das ideias e toma corpo, respira, ganha vida a cada gesto do artista. Enquanto trabalha, ele analisa a obra em construção, conversa com ela, segue sua intuição de criador. Ao notar que não falta retocar mais nada, ele dá o processo por finalizado. A obra agora pode ser vista, sentida e decifrada por várias pessoas. Esse é, resumidamente, o processo de criação dos artistas visuais. A ele, cada profissional acrescenta seu toque pessoal, sua maneira de conceber a obra.

Modigliani, por exemplo, tinha grande atração por retratar mulheres. Em suas mãos, as figuras femininas do início do século XX ganhavam traços delicados e longos pescoços. Suas pinturas até hoje são de uma singularidade tão impressionante que, de alguma forma, convidaram a artista Aline Lages a iniciar seu processo de criação. Ela recriou o mundo de Modigliani, esticando ainda mais os pescoços das mulheres até se transformarem em verdadeiras girafas. Nasceu a série “Giragliani”, composta pela personificação de girafas que fazem poses, vestem roupas, se enfeitam e compõem um cenário bem colorido. O universo feminino também é tema que encanta Maria Inês Oliveira, que tece, pacientemente, tramas de fios de nylon preto. A artista cria desenhos que mesclam a minúcia do fazer ao desconforto das formas irregulares flutuantes no ar.  Assimetria presente ainda nos objetos que inventa no computador, em infogravura, ou compõe com papel machê e pigmento de terra. A poética do objeto continua nas cerâmicas de Edelcy Seabra, tatuadas com pintura. Ao mesmo tempo, a tinta acrílica se dilui ou aglutina no papel, rebatendo figuras que criam padrões orgânicos aleatórios. Intensificando a técnica do carimbo, revela-se o trabalho de Tânia Caçador, que faz do ferro suas imagens. A artista imprime formas enferrujadas no pano branco que perdem a definição do objeto original e tornam-se símbolos de interpretações diversas. Assumem o lugar do divino, do natural, ou das tão variadas leituras efetuadas pelo espectador. É o que Sara Ávila[1] chama de “olhar vagabundo”; é ver sem limites, sem barreiras, sem pudores ou pretensões. Enxergar possibilidades criativas nas formas. É isso que propõem as quatro artistas envolvidas na mostra. Elas trazem para o Passo das Artes o resultado de um processo longo de pesquisa no Atelier do Jambreiro, em Nova Lima. Apresentam as inquietações que movem o grupo a fazer arte. E disponibilizam, generosamente, suas criações para serem mapeadas pelo olhar vagabundo de todos os visitantes que por ali passarem.

 

Amanda Lopes

15.03.2012

 


[1] Sara Ávila é artista visual, arte-educadora e coordenadora do Atelier do Jambreiro.