A página A9 da Folha de SP da última segunda feira, (28/03/2016), traz um retrato do momento que vivemos, dentro e além das nossas fronteiras, retratando momentos dramático que trazem um alerta e um desafio.

 

Desde os ataques terroristas do 11 de setembro de 2001 que o mundo vem quase se habituando a notícias como as que estão estampadas na referida página (fac-símile ao lado).

 

O terror ataca de um lado, o terror responde de outro. No terror, os extremos se tocam. Pior que isso, se igualam.

 

Com já disse em outros artigos e crônicas, gosto de observar a História e ver o que ele tem a nos ensinar.

 

Nos dois primeiros séculos do cristianismo houve uma grande e orquestrada perseguição à nascente comunidade dos chamados cristãos, nome dado aos seguidores do profeta galileu executado em Jerusalém.

 

Atacados, primeiro, pelos chefes dos judeus, de cuja religião o Cristianismo era visto como uma seita ou  ramificação, e depois pelos imperadores romanos, que controlavam grande parte das terras onde o cristianismo primitivo se distribuía, os cristãos foram caçados como criminosos e tinham que praticar clandestinamente a sua fé.

 

Os identificados eram presos, torturados, e martirizados, muitas vezes em espetáculos públicos no Coliseu Romano.

 

É desta época a frase: “o sangue dos mártires é semente de cristãos”.

 

Dois mil anos depois não é esse o discurso dos líderes das correntes radicais do Islã? Seus líderes não apelam para a guerra santa, criando os mártires de Alá que se explodem em troca da promessa de uma vida no paraíso?

 

 Cada atentado brutal reforça, do outro lado, a ideia de que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. E aí tropeçamos numa dúvida: há vigilância possível e eficaz quando se trata de conter alguém que está disposto a morrer? Nem o alvo é possível prever. Não será um quartel, um palácio governamental, um político, um general. O ataque pode acontecer numa fila do check in do aeroporto, na arquibancada de um campo de futebol, numa maratona, numa boate onde rola um show de rock, numa praça onde brincam crianças, num mercado onde as pessoas fazem compras, numa Olimpíada...

 

Como prevenir, combater, evitar esse inimigo invisível e cruel? Praticando ainda mais crueldade?

 

Na mesma página A9 há uma pista que aponta uma saída. Ela está quase invisível, no alto, à direita, onde uma pequena manchete diz: “Pela paz: Papa pede o uso de ‘armas do amor’ contra o terror”.

 

Não, meus amigos, o Papa Francisco não é ingênuo ou alienado. É corajoso e realista, além de coerente com quem o inspira, Jesus de Nazaré.

 

Entre a loucura suicida dos homens bomba e o extremismo racista dos neofascistas e neonazistas, o Papa propõe o radicalismo cristão: “amai os vossos inimigos, respondei ao mal com o bem, perdoai àqueles que te fazem o mal...”.

 

Não se trata de simples retórica. É um caminho. Nele haverá, com certeza, dor e sofrimento. Mas já não há dor e sofrimento nesta guerra que ninguém pode ganhar? Ao escolher o caminho da paz, pelo menos damos uma chance às gerações que virão.

 

O apelo do Papa não propõe confrontar os que, hoje, estão em guerra. Essa batalha já está perdida. Para os dois lados. Ele nos desafia e convida a pensar na criança que, hoje, está nascendo num campo de refugiados sírios e naquela que vêm à luz num moderno hospital belga. No adolescente que cresce na periferia de Bagdá e naquele que vai à escola num bairro de Nova York. No jovem que busca trabalho no Iraque e naquele que entra para uma Universidade na Inglaterra.

 

Para esses, a Paz não será a ausência da guerra, mas a presença do Amor.  

 

Eduardo Machado

30/03/2016