O silêncio é o espaço onde pode nascer em nós alguma coisa de novo. É por isso que o Advento é chamado o tempo do silêncio. A liturgia indica-nos que a palavra divina desce sobre a terra quando o silêncio mais profundo envolve o universo, quando tudo no mundo faz silêncio.
Os humanos têm a nostalgia do descanso e do silêncio. Mas quando tudo faz silêncio em volta deles, muitos são tomados pelo pânico. Temem ser confrontados com a sua própria verdade ou descobrir que a sua existência passa a toda a velocidade fora deles mesmos e que a sua vida está entorpecida e é monótona.
Encontramos este silêncio objetivo na natureza ou numa igreja vazia. O inverno é mais silencioso que o verão. É assim que o percebemos. Podemos expor-nos a esse silêncio objetivo. Mas depende de nós penetrar nesse espaço de silêncio ou fugir dele porque nos angustia.
Eis um excelente exercício para o tempo do Advento: simplesmente expormo-nos ao silêncio ambiente. Em nós mesmos o silêncio não se vai fazer depressa. Emerge uma grande quantidade de pensamentos, sentimentos e reflexões. Acolhamo-las e contemplemo-las. E depois despedimo-nos de tudo para nos expormos verdadeiramente ao silêncio.
Há um segundo exercício para o qual os monges do passado nos convidam. Dizem eles: em nós mesmos já se encontra um espaço de silêncio. É o espaço onde se situa em nós o Reino de Deus, o espaço onde Deus nasce em nós. Exponho-me a esse espaço e, por assim dizer, atravesso todos os sentimentos de desprazer, de angústia, de ciúme, de tristeza, de inveja, e percorro todos os sentimentos de culpabilidade até ao fundo. Não fico preso nestes sentimentos mas, antes, tenho toda a confiança na presença, para cá das emoções e das paixões, deste espaço de silêncio.
Neste espaço de silêncio estou imune a toda a expectativa e a todo o desejo humano. É lá que me encontro inteiro e na minha plenitude. Lá nada me pode ferir. Lá sou original e autêntico. É lá que se ilumina em mim a imagem original de Deus. Todas as outras imagens que os humanos me revestem, as imagens do meu descrédito e da minha presunção se dissolvem. É lá que eu me encontro puro e limpo. Lá não se pode introduzir nenhum sentimento de culpabilidade. É lá que se ilumina em mim o brilho intangível de Deus. É o espaço puro e virginal em mim, é lá que em mim Deus vem nascer.
Deste espaço posso não ter senão um pressentimento. Mas por vezes sinto-o por um brevíssimo instante. E a seguir, novamente, é o tumulto do quotidiano que o cobre.
É este instante onde tudo em mim é silêncio que me transforma. Em pleno turbilhão do quotidiano deu-me a certeza de que o espaço do silêncio está em mim mesmo e que nada no mundo o pode penetrar. É o lugar do nascimento de Deus em mim. Os monges designam este espaço como «lugar de paz», «lugar de claridade imperecível», e é pelo nascimento de Deus que em nós mesmos irradia esta claridade.
P. Anselm Grün