Ainda ontem encontrei uma pessoa que veio ter comigo e me disse: «Cheguei a uma encruzilhada do caminho, olho para a minha vida e acho que falhei em toda a linha». E eu respondi-lhe: «Bem-vindo ao clube, meu caro». 

O que dá sentido à vida? Não é o que fizemos. Só um ingénuo fica completamente feliz com aquilo que realizou e não percebe que devia ter feito o triplo, cem vezes mais. Então o que é que nos redime? O que é que nos salva? Cada vez creio mais que é colocarmo-nos, com humildade e confiança, na fronteira de um futuro que seja maior do que nós. É perceber que somos servos daquele que virá, que o momento mais importante não é este presente apenas, este instante encerrado em si, mas o tempo atravessado pela tensão de um futuro maior. 

Recordamo-nos daquilo que explicou João Batista: «Eu batizo-vos com água, mas depois de mim vem alguém mais poderoso do que eu (…). Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo» (Mateus 3, 11). Não valemos por nós mesmos; somos qualificados por aquilo de que estamos à espera; medimos a altura do futuro que nos habita. Somos apenas mediadores: fazemos pequenas coisas, sinalizamos com os nossos gestos aquele que virá. Quando nos colocamos assim, a vida torna-se outra coisa.  

José Tolentino Mendonça 
In "O pequeno caminho das grandes perguntas", Quetzal (Portugal) 

 
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