A oração tem também a forma de uma pergunta. Deixa-se habitar pela maravilha do nosso existir diante de Deus. A maravilha da argila nas mãos do criador. Pense-se no Salmo 8: 

«Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que fixastes, que coisa é o homem para que dele te recordes? O filho do homem para dele cuidares?».

Até onde nos leva o vento destas insuprimíveis perguntas? Talvez nos leve simplesmente a compreender a vida humana como possibilidade de Deus. Sim, esta vida, que tantas vezes nos custa a abraçar, aceitar ou compreender.

Esta vida que é exaltante como uma dança sem fim e ao mesmo tempo é lugar de fragilidade, contradição e dor. Esta misteriosa vida que se lança de tal maneira para a frente, para além de nós, que parece que nos escapa. Esta vida, assim em trânsito entre direções opostas, é a mira do olhar de Deus. 

Precisamente esta vida, que construímos no esforço dia após dia, que resiste ao abstrato e se deixa ver melhor no concreto: em gestos pequenos e grandes, em obras de amplo respiro ou no minúsculo silabário dos dias. 

Esta vida que não é unicamente pura biologia, elementar factualidade, mas é ética, amor, intencionalidade, arte, oração, desejo, sonho e procura. Esta vida que se quantifica e mede, mas para permanecer por fim indecifrável, é o lugar de Deus.

D.José Tolentino Mendonça

In: Avvenire

Publicado em imissio.net em 12.06.2019