José Rocha – olhares.com

 

Uma das formas de compreender a modernidade ocidental é notar que, à medida que ela se desenrolava, a vivência religiosa cristã caminhava sempre com mais velocidade, para a esfera privada da consciência. Certamente que a marcha não foi a mesma em todos os países e, particularmente entre nós, no Brasil, esta privatização é  mais recente. Estamos longe, entretanto, de perceber todas as conseqüências desse processo, parte do qual é inevitável. Entretanto, resignando-se ao insulamento na esfera privada, a religião só tem a perder numa civilização marcada pela ampliação incessante da esfera pública. Sem falar no essencial: sempre foi parte da tradição cristã a conversação com a cultura e desta conversação, como sabemos, brotou um acervo simbólico do mais amplo espectro.

 

Para ficar num exemplo, entre tantos outros possíveis: a proposta de uma infinita maleabilidade humana, ontem defendida por um culturalismo exacerbado – e hoje alardeada pelos entusiastas da engenharia genética – parece colidir com a lembrança cristã que nós, os humanos, existimos a partir de um fundo para sempre inatingível e sobre a qual nunca teremos um domínio exaustivo. Este problema, o da maleabilidade  humana, o cristianismo pode se furtar a enfrentá-lo? Não, já ele põe em cena um interesse cristão. Outros exemplos podem ser citados, não importa, lembrariam a mesma coisa: a massa da qual a vida pública no Ocidente é feita repõe em cena, necessariamente, o cristianismo.

 

Para pensar:

“Ilhas perdem os homens” (Carlos Drummond de Andrade)

 

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

01.09.2012