Simone Weil tem razão quando diz que de dois homens que não fizeram a experiência de Deus, o que o nega é talvez o que está mais perto dele?  Parece que não, já que é nosso hábito considerar o ateísmo o ponto mais distante em relação a Deus. Não apenas distância, negação mesmo. Mas não há uma provocação nesse quase paradoxo? Não se pode dizer que, não poucas vezes, o Deus que alegamos existir, e que opomos ao ateísmo, é apenas uma extensão de nós mesmos, de nossas necessidades, de nossos temores, de nossas expectativas, de nossas crenças mais apressadas? Enfim, um Deus concebido segundo a medida humana. Por outro lado, não é mais do que legítimo que perguntemos ao ateu qual é o Deus que ele nega existir? Alguma coisa pode ser feita no sentido de examinar as ideias sobre Deus, sobretudo recorrendo à história da teologia, seja no que diz respeito às visões mais próximas da razão, seja no que diz respeito ao material vindo da tradição mística. Como a esse respeito há mesmo no que nós poderíamos chamar de camadas ilustradas muito desconhecimento, esse exercício será sempre aconselhável.

Entretanto, a provocação do que é dito por Simone Weil nos leva mais longe. Como a noção de experiência é hoje entendida quase exclusivamente no sentido das ciências (controle, repetibilidade, etc.), campos onde a experiência não cabe nesse figurino acham-se permanentemente sob suspeita. Nesses casos, mesmo que não se recuse a aceitar a experiência, ela é vista como destituída de caráter objetivo, passando a pertencer unicamente à esfera da subjetividade.

Daí a importância da citação da pensadora francesa e, para nós, a necessidade da insistência na natureza objetiva ou real da experiência religiosa, lugar natal e irredutível de toda reflexão sobre a religião

Ricardo Fenati

06.08.21

imagem: pexels.com