Há os que duvidam da potência das palavras, esquecidos de que a nossa experiência no mundo é sempre mediada linguisticamente. Imaginando-se numa espécie de espaço prático, protegidos contra qualquer incursão da linguagem, acabam, de fato, mergulhados na banalidade simbólica. E aí, além de vítimas da indigência cultural, encerram-se num mundo mais e mais empobrecido de horizontes.

 

Quando desatentos das palavras, são as experiência que nos escapam. Um bom exemplo vem da dificuldade de perceber a diferença entre ingenuidade e inocência.

 

Dizemos que alguém é ingênuo quando não sabe ou ignora o que deveria saber, seja porque se esperava, com justiça, que ele soubesse, seja porque se trata de algo que é amplamente sabido. Quando há um saber disponível, que pode ser acessado, a  ingenuidade é sempre criticável. E é assim mesmo, não há porque não contar com o saber quando ele está à mão.

 

Inocência é outra coisa e não vale a pena tomá-la como sinônimo de ingenuidade. Inocência quer dizer não fingir saber o que, de fato, não se sabe, o que não é sabido de forma alguma. Inocência quer dizer não ceder à ilusão e aparentar conhecer o que permanece desconhecido, o que continua, e continuará, a ser objeto de investigação. Inocência decorre do reconhecimento da infinita riqueza da vida e da perplexidade, tão humana, diante do reconhecimento de que a existência excede e ultrapassa de muito nossas tentativas de capturá-la. É a inocência, com essa mistura de falta e desejo que a acompanha, que possibilita que a vida nos apareça como uma aventura possível, como uma alteridade que não cessa de nos interrogar.

 

 Para pensar na quinzena:

 “Nós não nascemos inocentes, mas podemos morrer inocentes” (Cristina Campo)

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

15.08.2013