Dê uma olhada mais demorada no Facebook e preste atenção nas postagens onde alguma discussão parece estar sendo proposta. Sendo uma discussão de uma temática que, em princípio, pode interessar a mais pessoas, é de se esperar que brotem, dos lados em disputa, que podem ser dois ou mais, argumentos, exemplos e comparações. Nada muito sofisticado, só a paciência de apresentar alguma fundamentação para o que se defende e a boa vontade de escutar posições distintas. Enfim, as regras de uma boa conversa entre pessoas ciosas de alguma tolerância e que têm gosto pela vida das idéias. Redes sociais, na medida em que criam espaços públicos de interação, potencializam a vocação humana para a convivência.

 

Entretanto, ainda há muito a aprender.  Muito freqüentemente, o que se passa no FB, quando está em pauta um tema polêmico, é a expressão raivosa de alguma opinião, completamente desinteressada de ouvir a discordância. Mero exercício de intolerância, beneficiado pela tecnologia.  Ou, ainda, a constituição de pequenos grupos em torno de uma bandeira, sempre reforçada pelas curtidas e compartilhamentos mútuos dos integrantes do gueto em questão. A estratégia costuma se  repetir: o grupo se identifica como minoritário e vitimado por alguma espécie de perseguição. Espera assim ganhar uma espécie de imunidade, já que vítimas, são, por princípio, injustiçadas e, por isso, inatacáveis. Multiplicados, esses grupos, à maneira de um arquipélago de ilhas isoladas, desmentem o que cabe esperar da cidade dos humanos: uma disposição incessante e grave para a aproximação ao invés da reafirmação narcísica, e, portanto, insegura e violenta, de nossa identidade.

 

Para pensar na quinzena:

“Narciso acha feio o que não é espelho” (Caetano Veloso)

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

15.05.2013