Ter uma opinião e, mais do que isso, manifestar uma opinião pode ser considerado um costume contemporâneo e mesmo um direito a ser defendido nos dias que correm. Pesquisas cujos resultados orientam tomadas de decisões de amplas conseqüências estão escoradas em opiniões. Um percentual de 70% por cento a seu favor atesta a correção ou a oportunidade de A frente aos escassos 30%  obtidos por B. O exercício da opinião parece indissociável da democracia: todos se manifestam a todo o tempo. Não ter uma opinião é sinal de menoridade ou de submissão inaceitável a uma autoridade. E mesmo no terreno mais estritamente pessoal, no domínio dos sentimentos o cenário é parecido: o que sentimos é, pelo fato de o sentirmos, é inquestionável. “O que você acha?”, mais do que uma pergunta, é entendido como um poderoso instrumento de aferição da realidade.

 

Será mesmo? Não é hora de percebermos que a riqueza da vida ultrapassa de muito a ansiedade de opinar ou a pressão do primeiro sentimento? A opinião que quase sempre evita a controvérsia e dispensa o argumento não é mais um sinal desta curiosa infantilização que parece não ter fim em torno de nós? A opinião que se irrita quando contestada, o sentimento que não admite a réplica, não reiteram o mesmo protesto da primeira infância diante da hostilidade inicial do mundo? E, coisa curiosa, a opinião que, dizem, é uma reafirmação dos direitos do indivíduo, não é, no final das contas, o lugar privilegiado da conformidade social?

 

Para pensar na quinzena:

“A gente deveria ser sempre um pouco improvável” ( Oscar Wilde)

 

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

15.07.2012