A experiência do sofrimento é de tal modo inseparável da vida humana que imaginar que não sofremos ou procurar, inutilmente, não sofrer talvez sejam modalidades ainda mais agudas de sofrimento. Mas no que diz respeito a nós, os humanos, nada é simples, nada é destituído de ambiguidade, nada é muito linear. Se o sofrimento é inevitável, devemos reconhecer que são muitas as fontes de sofrimento e, sobretudo, são variadas as nossas formas de lidarmos com ele.

Fontes de sofrimento são diversas: as biográficas, que se devem às vicissitudes das histórias pessoais, de responsabilidade nossa ou não, e as que, vindas do destino indiferente, caem sobre nós. Outras decorrem das sociedades de que fazemos parte e nos atingem enquanto membros da comunidade. E há um sofrimento que nos acompanha a todo o tempo, oriundo de nosso pertencimento à condição humana, dados os limites nos quais ela transcorre e os anseios que a caracterizam.

 

Entre as inúmeras reações possíveis em vista do sofrimento, e aqui sigo um texto do Pe. Javier Rojas, retenho duas. Diante do sofrimento, podemos nos valer dele para obter algum benefício indevido, algum olhar que, apiedado, nos conceda uma vantagem indevida, nos dispense de uma luta que nos caberia. Ou podemos, quando o sofrimento chegar até nós, procurar acolhê-lo como um traço da vida, como uma ocasião não de nossa dissolução, mas de aceitação da quota de dor inerente à vida. Dor a que, não raro, se segue uma interrogação que nos inquieta e obriga a movimentos de criação que na ausência do sofrimento não ocorreriam.

 

O sofrimento usado como meio de obter um ganho descabido despertará irritação e repulsa, diferentemente do sofrimento acolhido, que sempre tocará a corda de nossa compaixão.

 

Para pensar na quinzena:

“Ousar a fundo ser si mesmo, ousar ser um indivíduo, não este ou aquele, mas o que se é, só ante Deus, só na imensidão do seu esforço e da sua responsabilidade. (Kierkegaard)

 

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

03.06.2013