Quando o poder impele o homem para a arrogância, a poesia recorda-lhe os seus limites. Quando o poder restringe o campo dos seus interesses, a poesia recorda-lhe a riqueza e diversidade da sua existência. Quando o poder corrompe, a poesia purifica.
Saltito aqui e ali por uma recolha de discursos do presidente americano John Fitzgerald Kennedy. O que revela a autêntica grandeza de um estadista é o seu respiro, o seu olhar para além dos pequenos horizontes.
Por exemplo, no discurso na ONU, em 1961, leio: «A humanidade deve pôr fim à guerra ou a guerra porá fim à humanidade». Eu escolhi, porém, para a nossa reflexão, um passo do discurso que proferiu no Colégio Amherst, no ano de 1963, poucos meses antes de ser assassinado.
O tema é sugestivo: a poesia e a vida. Podemos atribuir ao termo “poesia” um significado mais vasto que englobe todos os valores do espírito e dos ideais, e assim compreendemos o quanto é necessária, ela que tantas vezes é relegada para o mundo dos sonhos e da fantasia.
A verdadeira poesia escava na obscuridade da alma e revela a nossa miséria, o nosso limite, a morte física e interior. É por isso que se torna um antídoto para a arrogância e para a superficialidade.
A poesia tende a ultrapassar as fronteiras da nossa finitude, impele-nos para o eterno e o infinito, mostra-nos o quanto é admirável o ser que nos rodeia, quão grandes são as nossas possibilidades e quanto é imenso o mistério que nos envolve e ultrapassa.
Em conclusão, a poesia é liberdade, pureza, sinceridade, e por estes caminhos conduz-nos para lá de toda a corrupção e engano rumo à luz e à verdade.
P. [Card.] Gianfranco Ravasi
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 12.05.2016 no SNPC em Portugal