O desânimo é um dos nossos maiores inimigos. Convence-nos de que as esperanças e as lutas para as alcançar não valem a pena. Que a noite não terá fim. Que é demasiado tarde para mudar o que quer que seja. Que o melhor é desistir…
O primeiro e mais importante sucesso do desalento é desviar-nos do nosso objetivo, fazendo-nos desacreditar nos nossos sonhos.
Que o medo não nos tome e nos faça escravos da desesperança.
Para não te perderes, é importante que decidas para onde queres ir. Que não queiras alcançar muitos destinos. Que não vás pelos caminhos dos outros ou pelos mais fáceis.
A cada dia, pode ser necessário ajustar o plano em algum ponto. Ainda que se mantenha o objetivo, temos de adaptar o percurso às circunstâncias em que nos é dado viver. Nenhum de nós controla a vida, mas somos livres de lhe responder de muitas formas.
Procura estar onde estás, porque quem quer estar em todo o lado nunca está em lado algum.
Decide-te. Escolher um caminho é dizer não a todos os outros. Nunca é demasiado tarde para mudar de destino e de caminho, mas cada passo que deres está dado, pois jamais alguém poderá desfazer ou refazer o que já foi feito.
Não deixes que o caminho te leve. Por vezes, é suposto ir por onde não há caminho!
Levanta-te e anda, sabendo que a cada dia o essencial não são os frutos que colhes, mas as sementes que lanças. Faz o que tens a fazer. Isso é muito mais valioso do que todas as consequências imediatas que tirares daí. Por melhores ou piores que sejam.
Ainda que não compreendas o porquê, levanta-te, alimenta-te, fortalece-te e anda… porque é longo o caminho que ainda tens de fazer, pelo meio de grandes desertos e, tantas vezes, por onde não há chão.
Confia. Mesmo que te sintas perdido, nunca estarás sozinho.
José Luis Nunes Martins
23.08.2024
Quando uma desgraça súbita nos surpreende, a vontade mais íntima é a de encontrar uma resposta qualquer que, com toda a força concentrada, e de uma só vez, ultrapasse a questão. Ora, isso nunca resulta, porque o bem estabelece-se devagar, como a vida.
Só com uma dinâmica que conjugue a paciência com a esperança se pode encontrar maneira de superar as tragédias da existência.
Mas o mal parece preferir atacar de forma tão lenta e subtil que quase não se dá por ele. Quando isso acontece, já costuma estar espalhado e alojado nas fundações da nossa vida. Devíamos imitar esta forma de agir!
Não queiras tudo hoje. O que a vida nos pede é muito mais do que aquilo que conseguimos fazer num só dia. Por isso, condena-se à desgraça, quem acredita que hoje consegue fazer tudo o que deve, porque não compreende que o caminho para o céu é sempre demorado e a subir!
Muita atividade não significa qualidade.
Ninguém consegue dar tudo a todos, muito menos num só dia… Quem acredita nisso ainda se castiga a si mesmo, porque julga que a culpa é sua!
É verdade que devemos extrair de cada dia tudo o que nele há, mas com a mesma força temos de fazer de cada dia um degrau, um passo, no nosso trajeto para muito mais além.
Que nas nossas guerras saibamos encontrar a paciência para suportar o que temos mesmo de sofrer, mas também a esperança para nos mantermos no rumo para longe da tempestade e perto da paz.
Não apresses a vida, chegarás de forma mais rápida onde poderás ser feliz. Talvez mesmo encontres uma forma de o ser a cada passo.
Constrói o que tens de construir, com calma e firmeza. Se tudo se desmoronar, começa de novo, com o mesmo objetivo. Muda o que tens de mudar, mas não percas tempo com revoltas nem com tentativas de soluções miraculosas.
Quando alguém estiver longe de casa, que esteja sempre a caminho dela, por maior que seja a distância. O que importa não é a velocidade, é a direção.
José Luis Nunes Martins
In: imissio.net 16.08.2024
Quando algo me faz falta, quando experimento um vazio porque não tenho comigo algo ou alguém que são meus… sinto tristeza. A vida é feita de perdas e as perdas são sempre tristes.
A dor é um sinal de que há algo que está a tocar em algum dos nossos limites, fazendo-nos sentir a verdade da nossa fragilidade. A dor alerta-nos para que nos defendamos desse ataque… procura ser um alarme para que lutemos contra o que nos ataca.
Mas há ainda mais dor quando não aceitamos os nossos limites. Quando não nos reconhecemos frágeis, revoltam-nos as nossas incapacidades. Dói-nos a nossa natureza humana. Importa aceitar a finitude da nossa vida e das nossas forças. Os limites do que somos e daquilo que são os outros e o mundo.
O sofrimento engrandece-nos, porque o coração se faz maior como forma de o conter e superar.
Se eu me entrego por amor a outra pessoa, isso não envolve nenhuma garantia de que serei aceite, de que me quer… muito menos de que me ame também. Muito pelo contrário, o amor depende da vontade e a vontade é livre. Assim, a dor que tantas vezes sentimos é afinal apenas a constatação de que somos todos livres… e de que cada um de nós determina o que quer dar e o que quer receber…
Esta condição incerta eleva ainda mais os que decidem entregar a sua vida pela felicidade de outro, apesar de tudo.
E é aqui, neste vazio que fica depois de me entregar, que me apercebo não da minha fraqueza, mas de onde vêm as minhas forças. Parecem brotar do nada. Há uma fonte de alegria em mim… que me alivia as tristezas e me ajuda a aceitar-me tal como sou.
Sei que quanto mais decidir amar, mais terei de sofrer. Mas também sei que se não arriscar entregar a minha vida, nunca chegarei a ser quem sou.
José Luis Nunes Martins
In: imissio.net 2.08.24
Este é talvez um dos maiores problemas da comunicação e maior gerador de mal-entendidos: aquilo que o outro diz. Mais do que as ações e os gestos sabemos que as palavras têm a capacidade de elevar uma alma ou de a ferir quase irremediavelmente.
A verdade é que não é exatamente aquilo que a outra pessoa diz que tem impacto em nós. É, também, aquilo que interpretamos e aquilo que ouvimos. Uma frase bem-intencionada pode desfazer-se quando chega ao recetor se o seu “ouvido” de dentro não estiver disposto a encará-lo dessa forma.
Assim, podemos dizer que é muito importante saber comunicar, mas também é igualmente importante saber ouvir.
Quantos conflitos terão começado com base nas palavras e no que se entendeu delas?
Quantas mágoas terão nascido com base no que se interpretou e não no que foi dito, realmente?
Claro que não há uma solução mágica para resolver este tipo de ruído na comunicação. É exatamente como jogarmos ao telefone avariado permanentemente e arcar com as consequências disso.
No entanto, podemos despertar o nosso coração para o não-julgamento. Para o receber aquilo que nos é dito a partir de um lugar de confiança e de amor-próprio. Assumir que o que o outro diz pode não ser para me magoar, mas sim porque o próprio outro está magoado. E assumir que se eu me ofender com o que o outro disse também tenho o direito (ou o dever?) de pedir à outra pessoa que me esclareça e que me explique melhor o que quer dizer. Mais ainda, posso explicar-lhe que o tom e a forma não rimam com o meu entendimento e com a minha compaixão e que, por isso, peço uma alternativa ao que foi dito em primeiro lugar.
Estamos todos a fazer o melhor que sabemos com aquilo que temos. E, às vezes, o que temos é muito pouco e muito frágil.
Mesmo assim, se dentro do pouco que tivermos, soubermos dar o tudo que isso é podemos, efetivamente, fazer a diferença no mundo de uma maneira mais profunda do que podemos imaginar.
Marta Arrais
26 de junho de 2024
In: imissio.net
É urgente o tempo para parar.
Para dar prioridade ao silêncio e ao sossego.
Para colocar o corpo em ponto morto e tirar a chave da ignição.
É urgente colocar o que é importante no lugar certo e retirar os sublinhados fluorescentes das coisas que não nos acrescentam, mas que, por tantas razões, nos distraem e entretêm.
É urgente a calma e preferir o bater das ondas em vez do bater de um coração quase sempre alucinado e pouco consciente dos perigos do ritmo que escolhe.
É urgente o respirar fundo, o agradecer o que veio para nos ensinar e o que nos tirou o sono. Tudo fez parte daquilo que somos chamados a viver. Tudo pode ser um mestre e um sábio se quisermos encarar a vida com essa humildade.
É urgente sentir a dor que houver para sentir e não lhe virar as costas. É quando não olhamos para as coisas que elas ganham poder absoluto sobre nós.
É urgente deixar cair. Deixar passar. Não dar protagonismo aos personagens secundários da nossa história. Todos seremos julgados, um dia, por aquilo que soubemos dar com amor e sem exigências.
É urgente o tempo de descanso, de cuidado dos ritmos pessoais e do simples ver passar o tempo como quem vê passar as nuvens.
É urgente viver para se ser tudo o que a vida quiser, sem desejar que parte alguma fique de fora.
É urgente fazer um intervalo nas preocupações e observar aquilo que flui, na mesma, sem a nossa autorização ou interferência.
Não vamos conseguir sempre. Não vai ser sempre fácil e nem todos os acontecimentos poderão conter-se na dimensão do nosso entendimento.
Que saibamos olhar para o que não compreendemos como parte deste mistério absurdo, mas incrível, de estarmos vivos.
Marta Arrais
In: imissio.net
19.06.2024
imagem: pexels.com/andrefurtado
A vida não se compadece das tuas escolhas, dos teus desejos ou dos teus sonhos mais profundos. Acontece para além daquilo que tu és e daquilo que são os teus limites. Brinda-te com o que lhe convém, por muito que não te convenha a ti e aos teus timings.
A vida mostra-nos que não controlamos nada. Que o que é para nós acabará por nos perseguir até nos encontrar. Varrerá tudo e todos até que aprendas o que deves aprender. Obrigar-te-á a escutar a voz da tua alma e a ouvir correr o rio que passa no teu coração. Obrigar-te-á a ter tempo para o que ela quer e não para o que tu gostavas de ter ou ouvir. Deixar-te-á sem palavras, sem chão, sem alcance e vai turvar-te a capacidade de entendimento e de compreensão.
Noutras alturas vai surpreender-te com a bondade que devolveres aos outros e com os retornos que não imaginavas, algum dia, receber. Vai trazer-te pessoas boas, pessoas para amar, pessoas para aprender e pessoas para te dar colo. É nestes momentos que mais quererás agradecer-lhe.
Agradece-lhe também os momentos difíceis. Os tumultos que trouxeram aprendizagens e os que te fizeram duvidar de tudo e de ti. Tudo nos acontece por razões que só entenderemos se tivermos capacidade de curar por dentro. De olhar para o sangue que correu das feridas. As cicatrizes que vai deixar-te vão doer-te alguma coisa, mas vão trazer-te sentidos múltiplos e, quem sabe, fazer-te encontrar a tua missão neste mundo.
E que outra missão teremos senão a de aceitar a vida como ela for?
Nem sempre tudo como queres.
Nem sempre tudo como sonhaste.
Quase nada ao alcance do teu entendimento demasiado humano.
Mas sempre tudo com um propósito maior e mais alto.
Ainda vais a subir a montanha. Como é que queres ver o mar daí?
Ainda estás a nadar em águas profundas. Como é que queres ver a ilha daí?
Depois. Mais à frente. Um dia destes. O sentido que não encontras há de encontrar-te.
Marta Arrais
11.05.2024
in: imissio.net
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Os dias que hoje vivemos parecem-nos escuros. As guerras proliferam à volta do globo, ceifando vidas inocentes, dizimando casas, cidades e lugares que antes pareciam seguros.
Custa-nos entender como é que as guerras começam e, mais ainda, como é que continuam por tempo indeterminado quando, muitas vezes, já não se justificam ou, mais ainda, quando nunca se justificaram.
As guerras começam quando as pessoas deixam de estar no seu lugar e pretendem obter o que não é seu por direito. Começam por justificar-se ataques a alvos mais ou menos políticos, mas, rapidamente, tudo galga para um conflito onde se perde a noção de todos os limites e onde se perde, essencialmente, o respeito pela vida humana. As pessoas deixam de considerar os outros como iguais e deixam mesmo de os conceber como seres humanos, numa atitude de completa e total alienação.
Aquilo que sabemos sobre os grandes conflitos mundiais está à vista. Mas e o que está do nosso lado das fronteiras? E o que mora dentro da nossa interioridade? Também é gerador de conflito?
Um conflito só existe e só se projeta no exterior quando vivemos em guerra com o nosso mundo interno. Quando não nos queremos ver, quando não conseguimos aceitar o que não convive em paz dentro de nós. É essa a razão principal de todo e qualquer conflito. E ainda que não esteja ao nosso alcance acabar com o massacre que todos os dias nos entra casa adentro através das notícias, podemos, isso sim, dedicar tempo ao que somos e perceber que ponta do fio ainda precisamos de desenrolar e de amar.
Não podemos, de facto, controlar o que se passa fora de nós. O que os outros decidem dizer ou fazer. O que os outros decidem não dizer ou não fazer. Como os outros decidem tratar-nos ou destratar-nos. Mas podemos decidir como gerimos esse impacto dentro de nós e como permitimos, ou não, os efeitos dessas palavras ou tratamentos.
Estamos ainda muito longe de um nível de consciência que nos permita compreender que os outros também somos nós. Mas podemos caminhar a bom ritmo na direção da compaixão e do não julgamento. Se estivermos dispostos a isso, claro.
Ninguém gosta de imprevistos. De cancelamentos. De voltas desnecessárias às rotundas do dia-a-dia. Os imprevistos dizem-nos que não controlamos nada. Que as nossas vontades e desejos estão submetidos ao improvável, ao inesperado e ao inexplicável. E a forma como os ecos desses imponderáveis nos afetam diz muito sobre nós e sobre a nossa forma de viver a vida e os nossos dias.
Penso que todos nós encontramos algum conforto no controlo. No imaginar a vida como a prevemos e como gostaríamos que fosse. Essa sensação de conforto dá-nos a ilusão de premeditar o que vai acontecer. Amanhã acordo e faço isto e aquilo e a outra coisa. Muitas das vezes a vida deixa-nos acreditar no previsível. No esperado e no imaginado. No entanto, e tantas outras vezes, a vida brinda-nos com o arremesso do que não esperávamos. Pode ser um imprevisto menor como um cancelamento de um voo, como uma estrada cortada, como uma pessoa que reage de forma diferente do habitual ou menos simpática. Outras vezes os imprevistos são maiores do que nós. Trazem a morte. O improvável da novidade triste dos que partem. E isso deixa-nos com uma cratera no peito.
Não estamos preparados para o que não queremos que aconteça. Queremos que a maré esteja sempre vazia para podermos mergulhar em segurança. E, não poucas vezes, a vida apresenta-se-nos como o mar picado do Guincho ou da Nazaré. E lá temos de adaptar a prancha-coração ao que não sabemos que vai chegar.
Essa capacidade de adaptação, de reorganização e de reajuste traz-nos uma aprendizagem essencial: estamos aqui emprestados, não controlamos absolutamente nada e teremos de nos ajustar a seja o que for que a vida traga. Criar resistência ao que a vida é acaba por ser um não viver o que está guardado para nós.
Reagir aos imponderáveis e ficar zangado faz parte do caminho. Fazer o luto das expectativas criadas é, muitas vezes, tão difícil quanto fazer o luto de uma partida ou de um abandono. Mas é para isso que aqui estamos. Para perceber que não sabemos a durabilidade do nosso corpo neste universo e nesta dimensão onde nos encontramos.
Resta-nos agradecer. Trazer de volta a paz aos dias menos controlados. Mais irrequietos e mais revoltos como as ondas da Praia de Espinho.
Enquanto não sabemos se nos falta muito ou pouco para andar por cá, que possamos encolher a nossa arrogância e expandir as arestas da alma ao que estiver para vir.
Marta Arrais
In: imissio.net 24.04.2024
imagem: pexels.com
De que me interessam as razões? É importante compreender o que se passa, mas será sempre mais importante viver em paz e com confiança no amanhã.
Compreendo a minha história, as razões da minha existência, os porquês e os para quês de cada dia da minha vida? Não! Mas sou inteligente o suficiente para compreender que tudo pode fazer sentido, ainda que eu não o entenda. A razão consegue alcançar uma verdade importante: há muitas realidades que a ultrapassam.
Conseguirá, por exemplo, uma criança compreender tudo o que os seus pais fazem por ela? O seu mundo perde encanto por causa disso? Não! Uma criança confia! Tanto que julga possível o mais inacreditável dos impossíveis.
De pouco importam as razões quando alguém não confia em si e desconfia de cada um dos outros… O que leva grande parte deles a também não acreditarem em quem neles não tem fé.
Não exijas confiança, faz por merecê-la.
A fé não depende da razão. Alguns não acreditam sequer no que está diante dos seus olhos. Como não o compreendem, julgam tratar-se de uma mentira.
O orgulho cega-nos. Os que se consideram excelentes julgam-se autossuficientes, afastam-se dos outros e acabam longe do mundo, do que são e do que podiam ser. Ninguém é feliz sozinho. É simples: ou confiamos uns nos outros e nos entreajudamos ou estamos condenados a ser infelizes.
Não deixes que a razão te esconda o infinito!
Só a confiança permite manter a esperança face a todos os medos, incompreensões e sofrimentos do caminho.
José Luis Nunes Martins
04.04.2024
in: imissio.net
Dizia-nos o pequeno (grande!) principezinho que o essencial é invisível aos olhos. Que é, precisamente, naquilo que não vemos que reside a raiz de tudo o que é importante nas nossas vidas.
Não querendo deixar de concordar com essa bonita verdade, porque o é, também não posso deixar de escrever sobre aquilo que, não sendo invisível, não deixa (ainda assim) de ser importante.
Aliás, na correria dos dias, passamos os olhos pelas coisas sem as ver. Passamos os olhos pelas pessoas, sem as ver. Passamos os olhos sobre os problemas dos outros, sem os querer ver verdadeiramente. Não menos vezes passamos os olhos nas nossas dores, sem as ver.
E todo esse “não ver” tem um preço altíssimo que acabará por ser pago à nossa própria custa.
Essa decisão, quase inconsciente, de não ver o que tem de ser visto reina como um lema. Se eu não vejo, não existe. Se eu escondo (ou me escondo) talvez deixe de ser importante ou de ter peso.
Sabemos, no entanto, que a verdade não é essa. Esconder acrescenta gelo ao iceberg e não ver torna-nos emocionalmente pouco inteligentes.
Andamos todos tão preocupados com a inteligência artificial, mas há uma coisa que os robots não podem fazer: sentir verdadeiramente. Colocar-se no lugar do outro e ousar tirar os próprios sapatos para calçar os que não são nossos.
O que precisamos atualmente é de mais inteligência emocional. Mais compaixão. Mais entrega a tudo o que somos e fazemos.
Estamos de passagem e esquecemo-nos disso imensas vezes. Não somos daqui e o que nos é pedido é para ver mais e melhor, com tudo o que isso implica.
Obviamente que esse “ver” está imbuído de uma imensa responsabilidade. Quem vê não pode ignorar, não pode jamais fingir que não viu. Torna-se testemunha mesmo sem querer.
Deixo este desafio para cada um de nós: o de querer ver o que nem sempre é visto e o de querer reparar em tudo o que, sendo importante, nos escapa tantas vezes ao coração.
Marta Arrais
28.02.24 in: imissio.net
imagem: pexels.com
Sessenta anos de Campanha da Fraternidade (CF)! Criada pela CNBB em 1964, a CF é um apoio aos cristãos para uma reflexão, a partir do Evangelho, sobre problemas que afligem a população: pobreza, meio ambiente, violência, individualismo, trabalho precário, educação, saúde. Como ação evangelizadora da Igreja, todos os batizados são convocados a testemunhar a fé que se expressa no amor aos irmãos. A conversão tem uma dimensão pessoal, comunitária e sociopolítica. A penitência quaresmal deve ser externa e social, não só interna e individual (Sacrosanctum Concilium, 110).
Inspirada na Encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti (FT), a CF-2024 tem como tema Fraternidade e Amizade social. Vós sois todos irmãos e irmãs (Mt 23, 8). O objetivo é despertar para o valor e a beleza da fraternidade, promovendo e fortalecendo os vínculos da amizade social para que, em Jesus Cristo, a justiça e a paz sejam realidade entre todas as pessoas e povos!
A amizade é a fonte da fraternidade. Dom de Deus, somos criados para a comunhão. A referência da amizade é Jesus Cristo que “nos liberta para amar com justiça” (Rom 6,20). Amizade tem a justiça como princípio: dar ao outro o que é dele por direito. Ou seja, não se reduz a afeto. Nesse sentido, a amizade é a virtude política para a convivência e a paz na sociedade.
Papa Francisco, na Fratelli Tutti (FT), apresenta as bases da fraternidade universal: amizade social, amor político, cultura do encontro. Amizade social significa um grande abraço universal que rompe muros e fronteiras geográficas. Por tanto, para pensar sistemas econômicos e estruturas políticas igualitárias, é preciso substituir o individualismo, o nacionalismo e o fanatismo pelo amor social.
O que aconteceu conosco? O mundo “está desmoronando e talvez se aproximando de um ponto de ruptura” (Laudate Deum, 2). Por que tanto ódio e violência, intolerância e brutalidade? Nessa era da estupidez, a CF de 2024 retoma a pergunta da CF de 1974: Onde está teu irmão? (Gn 4,9). Cinquenta anos depois, o capitalismo intensificou a Síndrome de Caim: egoísmo, obsessão pela prosperidade, pelo consumo, pela fama. A alterofobia – negação da humanidade do outro – está na origem dessa irracionalidade da ditadura do eu. As consequências são inevitáveis: aquecimento global, explosão das desigualdades sociais, concentração da riqueza, violência contra os direitos humanos, banalização do mal, racismo, violência de gênero, machismo, discriminação, bullying, cultura do ódio e do cancelamento, pobrefobia escancarada, uma sociedade anestesiada.
Como a fé pode nos inspirar a superar essa realidade? A fraternidade universal está no coração do Evangelho. Vós sois todos irmãos (Mt 23, 8)! Todo ser humano é reflexo do amor do Criador como fonte de amor. Todo ser humano “foi criado por meio do Filho e em vista Dele” (Col 1,15-17). Filho que nos deu uma Nova Lei: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34). Amizade social é uma resposta ao Amor: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1 Jo 4, 7-8).
A verdadeira riqueza é o bem que fazemos aos outros. Através da parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 25-37) Jesus nos ensina que a “amizade social e a fraternidade universal exigem um reconhecimento essencial: tomar consciência de quanto vale um ser humano, de quanto vale uma pessoa, sempre e em qualquer circunstância” (FT, 106). A expressão mais alta de amizade social é “amar ao mais desimportante e desprezado dos seres humanos como a um irmão, como se existisse apenas ele no mundo” (FT, 193). Priorizar os últimos na escala do poder político, social e econômico, os ignorados e invisíveis. “O que vocês fizeram ao menor dos meus irmãos, a mim o fizeram (Mt 25, 40). Ignorar o pobre é desprezar Deus. Não haverá fraternidade universal sem amizade com o pobre.
É preciso agir para “alargar o espaço da nossa tenda” (Is 54, 2), pois “quem não pratica a justiça não é de Deus” (1 Jo 3, 10). Ainda que seja “difícil ter olhos às injustiças que cometemos” (Dom Helder Câmara), cada pessoa está desafiada a identificar aquelas vaidades e interesses egoístas que impedem olhar o outro com amor e respeitar a diversidade de cor, religião, cultura, orientação sexual. Na comunidade e no ambiente de trabalho, ações simples podem gerar uma “cultura da amizade”: fazer novas amizades, desfazer panelinhas, combater discriminações.
Na esfera social, são expressões de empenho pela fraternidade universal: o voluntariado junto aos mais pobres, o enfrentamento ao racismo e ao machismo, um firme compromisso com a democracia, a justiça social e os direitos humanos, promover a fraternidade e combater o ódio nas redes sociais e atuar corajosamente junto aos movimentos sociais.
Todas as pessoas são iguais em dignidade. Somos todos irmãos e irmãs. “Todos são importantes, todos são necessários, todos são rostos diferentes da mesma humanidade amada por Deus” (FT – Oração cristã ecumênica).
Élio Gasda, SJ é professor e pesquisador no departamento de Teologia da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE)
In: site da FAJE
imagem: cartaz da CF/2024
Tempo para sentir o que o corpo quer e diz.
Tempo para andar mais devagar. Para abrandar.
Tempo para respirar fundo.
Tempo para ver melhor.
Para fechar os olhos mais vezes e conversar com a escuridão clara de os ter fechados.
Tempo para curar.
Para amar melhor e começar por dentro. Por mim.
Para devolver na medida do que foi dado e acrescentar um pouco mais.
Fazer do nada o tudo.
E do tudo o quase nada.
Tempo para meditar. Para encher o peito de ar e acreditar.
Para escrever uma carta e para acreditar nas palavras que ali nascerem.
Tempo para ver o que precisa de ser visto. Para ler o que precisa de ser lido. Para tirar os dourados do que precisa de ser observado sem cores nem artifícios.
Tempo para não ir. Para não fazer. Para não arriscar. Para não dizer.
Tempo para ficar calado. Para escolher o silêncio e a paz.
Tempo para adormecer de consciência tranquila.
Para perceber que tudo é o que tem de ser.
Que tudo vem quando é o tempo e que tudo o que sabemos é o que precisamos de saber.
Tempo para guardar a alma das coisas que a fazem pequena.
Para a preparar para as coisas pequenas que a fazem grande.
Tempo para ver tudo como se fosse a primeira vez.
Marta Arrais
In: imissio.net 24.01.24
Muitas ideias e emoções preenchem o nosso interior, mas, talvez por serem tantas, todas elas acabam por ser passageiras. Sucedem-se, como se se empurrassem umas às outras para disputar a nossa atenção. Uma turbulência caótica que cansa, sem que sequer percebamos bem o sentido de assim ser.
Tão depressa nos entristecemos com uma angústia profunda como no minuto seguinte isso acaba por ser passado para trás por uma qualquer preocupação com algo tão superficial como a necessidade de comprarmos qualquer coisa… É claro, logo a seguir podemos deixar-nos ir por uma memória longínqua que acaba também interrompida, desta vez pelo calor que estamos a sentir e que nos obriga a abrir uma janela. Chegados à janela, é bem possível que entreguemos a nossa atenção a uma qualquer ideia que nos assalte!
Pensando em tanta coisa, acabamos por não pensar em nada. Gerimos muitas coisas, mas não digerimos nada. Sem tempo, não descansamos, não processamos nem resolvemos tanto quanto poderíamos se fossemos mais capazes de não nos deixarmos perturbar pela cascata sem fim de informações.
Quantas vezes sentimos mais algo que surge em sofrimento ou em alegria diante de nós do que aquilo que se passa no nosso coração?
Tratamo-nos como um pai negligente que não quer saber do que os filhos precisam, quando mais dar-lhes o seu tempo, que julga ser importante para outras coisas!
Abandonamo-nos e aceleramos para dar várias voltas ao mundo, sem consciência de que os nossos problemas estão a crescer a cada dia e ainda com mais força, quando os ignoramos. O valor da fatura a pagar vai aumentando e é com a vida que a havemos de pagar.
1 – O que anda a me preocupar?
2 – Do que me sinto grato?
3 – O que me entristece?
4 – Que cuidados pede o meu corpo?
5 – O que decidi e fiz hoje por amor?
6 – O que ando a fazer mal?
7 – O que devo melhorar amanhã?
Dedica algum tempo a ti mesmo no final de cada dia. Como se falasses com um amigo resgata do teu dia o que importa pensar e sentir com mais tempo e verdade. Com coragem, vai arrancando os espinhos que trazes cravados nos pés… e que te magoam há já muito tempo.
Não deixes que o orgulho, sob a forma de preguiça ou medo, te impeça disso.
José Luis Nunes Martins
In: imissio.net 29.12.23
imagem: pexels.com
Desejo: reconhecer que algo está faltando. Saudade... Eu sugeriria que espiritualidade tem algo a ver com isto: viver em meio à presença de uma ausência. É daí que surge tudo o que de belo fazemos: o amor, a poesia, os jardins, a música, as relações... Tudo. Fazemos estas coisas para completar este pedaço que está faltando. Sou espiritual por causa disto, do meu corpo sai uma canção, um suspiro, uma saudade por algo que não encontro, e penso que sinto, no Vento, o cheiro dessa coisa.
Desejo: somos espirituais por causa do desejo. O desejo aponta para aquilo que está ausente. E nós, seres estranhos, somos capazes de viver por causa dessa ausência. Não, não é o desejo de uma casa, ou de uma namorada, ou de um automóvel. É aquela tristeza que permanece, mesmo quando todas estas coisas boas são satisfeitas. Nós somos, incuravelmente, pranteadores de algo que se perdeu... E que desejamos re-encontrar, no futuro. Mas para isto é preciso saber o nome do Desejo. Acontece que somos banais. E quando tratamos de falar no nome do Desejo – este grande desejo, nome sagrado! – falamos demais sem nos darmos conta de que não sabemos o seu nome...
O desejo é como o nome de Deus: os hebreus não podiam pronunciá-lo, e por isto mesmo, se esqueceram dele. Se soubéssemos disto falaríamos menos em nossas orações, porque compreenderíamos que a falação é embrulhação. É preciso descobrir o nome de nosso grande Desejo – aquele, por cuja causa, abandonaríamos tudo, aquele que nos faria bem aventurados. Mas isto requer trabalho, muito silêncio, muita escuta. Aprender a falar poética, em que cada palavra é, absolutamente indispensável. Dizer o nome do nosso grande desejo é orar. É só isto que é orar. O resto é blasfêmia. Espiritualidade: a busca desse desejo perdido, desejo de vida, que nos libertaria dos desejos de morte que nos petrificam... É preciso voar...
Pe. Onofre Araújo SJ
(texto extraído do seu facebook no dia 17.12.23)
Pe. Onofre faleceu hoje, dia 20 de dezembro de 2023, em Belo Horizonte. Vive hoje o seu Natal.
Nossa homenagem a esse homem inspirado e inspirador. Nossa solidariedade a Companhia de Jesus que perde um grande jesuíta.
Maria, senhora do Advento, ensina-nos o que significa estar grávida de Deus. Ensina-nos essa arte grandiosa e acessível de gerar o divino, de despertá-lo lentamente em cada coração, e como uma luz necessária quando a noite avança ou o vazio se torna pesado.
Ensina-nos a abraçar com esperança a vulnerabilidade, tanto a alheia quanto a nossa. Ensina-nos a nos libertar das idealizações e de seus enganos.
Ensina-nos que a fidelidade ao Onipotente se realiza no cuidado daquilo que é totalmente frágil e que as grandes viagens dependem dos pequenos passos. Ensina-nos a acolher aquilo que vem de Deus e que não entendemos, ou só entenderemos depois.
Ensina-nos a saber agradecer (e, portanto, a esclarecer, a devolver limpidez), mesmo quando isso nos custa.
A agradecer pelos dias fáceis e pelos dias sombrios; a agradecer por aquilo que é evidente e por aquilo que está encoberto; pelo superficial e pelo vertical; pela mansidão da brisa e pelo ímpeto do vento.
A agradecer pela força e pelo fracasso; por aquilo que concluímos e por aquilo que nos parece inacabado, por aquilo que chegamos a ver por completo ou apenas disperso em pobres migalhas.
Porque, a seu modo, cada coisa nos integra naquela espiral que pode ser a vida, uma espiral que se amplia cada vez mais.
Ensina-nos a descobrir em nós a capacidade de multiplicar a alegria; de mediar a esperança que mostra caminhos sempre novos; de facilitar a graça que potencializa os novos inícios.
Dom José Tolentino Mendonça
publicado por Avvenire, 08-12-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Dedicamos muito tempo da nossa vida a lutar contra a escuridão. As tempestades parecem suceder-se ao ponto de, por vezes, nem sabermos sequer se ainda é a mesma. Mas passam. Todas passam. Porque na vida o pouco que fica não é a tristeza.
Sentes-te perdido, mas não estás. A guerra constante contra tudo o que nos rouba a paz que merecemos consome muitas das nossas forças. Sentimo-nos longe de casa, longe do caminho, longe até do que somos.
O sentido da tua vida, mesmo quando estás no meio de uma trovoada, deve ser manteres-te fiel ao que amas e à certeza de que és amado. As tempestades passam, o amor não.
É difícil manter o rumo quando é necessário enfrentar os medos, em direção aos sonhos. Muita gente passa a sua vida a fugir dos medos, deixando que sejam eles, na verdade, a determinar um caminho que não leva a lado algum e que apenas serve para desperdiçar esta preciosa vida que nos foi confiada.
Não te esqueças de ir ao encontro de quem está em dificuldade a fim de o socorrer, animar e proteger. Não desistas dos outros nem de ti. Assume com coragem os teus momentos mais frágeis e pede ajuda. Acredita que pedir ajuda é mesmo o contrário de desistir.
A cada madrugada de bonança na vida agradece o que a tempestade curou e fortaleceu em ti. Algumas vezes terás tido grandes perdas… mas continuas aqui e isso é sinal de que, apesar de tudo, venceste a escuridão.
Em breve, a paz será atacada por mais uma tempestade qualquer e tu terás de decidir mais uma vez se lutas ou não, se acreditas no amor ou se é desta que decides que já não queres ter mais forças…
A tempestade passará. E tu?
José Luis Nunes Martins
In: imissio.net 15.12.2023
imagem: pexels.com
Tu, que abraças do fundo do coração. Ouve bem: o teu abraço é abrigo.
Tu, que dás a mão para confortar. Ouve bem: a tua mão é força.
Tu, que sorris tão fácil como quem respira. Ouve bem: o teu sorriso é sol nos dias cinzentos.
Tu, que olhas bem dentro da alma. Ouve bem: o teu olhar toca.
Tu, que és gesto feito de ternura. Ouve bem: o teu gesto cura.
Tu, que és presença de verdade, que fica, que se importa. Ouve bem: a tua presença é luz na escuridão.
Tu, que és amparo que não deixa cair. Ouve bem: o teu amparo é paz na tempestade.
Tu, que cuidas como quem abraça a vida. Ouve bem: o teu cuidado salva.
Tu, que falas ao coração e do coração. Com palavras, com silêncios e com a vida.
Ouve bem: és tanto.
Tu, que tens o coração do lado certo: do lado do bem.
Tu, que és do lado bonito da vida. Do mundo. E que fazes esse lado bonito existir, ser verdade.
Tu, que fazes sorrir. Mesmo sem saberes.
Tu, que és vida de amor.
Ouve bem: mudas o mundo, mesmo sem saberes. E fazes acreditar.
Para saberes. E não esqueceres.
Tu, por tudo e por tanto.
Ouve bem: obrigada. Por seres, por estares, por existires.
Tu, por tudo e por tanto.
Ouve bem: obrigada. Por seres, por estares, por existires.
Daniela Barrera
In: imissio.net 16.10.23
imagem: pexels.com
Não sabemos cuidar do que é nosso. Ou melhor, sabemos cuidar dos nossos. Do que está fora de nós. Colecionamos sacrifícios e malabarismos em prol dos outros. Dos filhos, dos pais, dos irmãos, dos amigos, dos que nos são mais ou menos sangue.
No entanto, quando chega a hora de olharmos para a casa de dentro tudo se descompõe. O que estava desarrumado, desarrumado fica. O que está por amar, por amar fica. O que precisa de ser intervencionado, amputado fica.
Vivemos uma vida profundamente incompleta e nem nos apercebemos. Dedicamo-nos a uma causa com as entranhas acesas e nem duvidamos. Apostamos as fichas todas no cuidado de quem mora conosco, mas não sabemos cuidar da nossa casa. Do nosso coração. Da nossa alma.
De vez em quando, e porque o corpo é sábio, lá vem uma onda desgovernada em forma de calafrio. De gripe. De depressão. De pânico. De pedra na vesícula. De descomando físico. E surpreendemo-nos muito porque até somos vegan. E até fazemos exercício físico. E até bebemos 2 litros de água por dia. Mas deixámo-nos secar por dentro. A nossa criança interior morre à sede. As nossas necessidades espirituais e emocionais pedem esmola. O nosso coração já nem sabe se é órgão ou contorno e esqueleto.
Não vale passar a vida a cuidar dos outros se não soubermos olhar para o que precisamos. Às vezes só precisamos de um copo de água. Ou da alma lavada com a água fria de quem sabe ver e olhar para dentro. Outras vezes precisamos de não estar sozinhos. De ser amados. De ser vistos. De ser respeitados. De que nos digam que estamos no caminho certo. De que nos digam que estamos a fazer o melhor que podemos. Mas a primeira pessoa que deve dizer todas essas palavras-consolo somos nós próprios. Porque enquanto formos órfãos de nós, nunca teremos paz ou pão.
Que nos seja cada vez mais fácil olhar para nós como olhamos para os outros. Que a esperança que depositamos naquilo em que acreditamos nos seja estendida. Que o amor que dedicamos aos nossos seja alargado ao que mora, tantas vezes errante, dentro de nós.
Não te esqueças de ti.
Marta Arrais
In: imissio.net 04.10.23
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