As mulheres do calvário
Algumas mulheres
seguiram a Jesus
desde a Galileia
até essa colina ensanguentada
onde o império masculino
desdobrava com frieza
de lança e de martelo
sua malícia treinada.
O olhar ofegante de Jesus
viu-as ao longe tão próximas,
em cachos,
imprensadas umas contra as outras
pelo espanto solidário,
que uma gota de ternura
pousou em seus olhos,
e deslizou como um beijo
por sua garganta arada
e seu coração amigo.
Contemplaram lentamente,
fiéis à realidade de sangue
e ao amor nú.
Só elas poderão nos contar
até a última ferida.
Só elas poderão nos dizer
a última palavra de Jesus,
que apenas aparecia nos seus olhos,
como um segredo inesgotável
que só ao terceiro dia
pôde pronunciar seu vôo.
Elas,
as mulheres da Galileia,
as mulheres da margem,
tão próximas à dor,
sabem bem
que as feridas ressuscitam
quando são ungidas
com lágrimas, olhares,
carícias e perfumes.
Por isso saíram
de madrugada,
quando as criaturas
emergiam da noite,
para ungir um cadáver
na manhã de domingo.
Benjamim Gonzalez Buelta SJ