Caminho do campo verde,

estrada depois de estrada.

Cercas de flores, palmeiras,

serra azul, água calada.

 

Eu ando sozinha

no meio do vale.

Mas a tarde é minha.

 

Meus pés vão pisando a terra

que é a imagem da minha vida:

tão vazia, mas tão bela,

tão certa, mas tão perdida!

 

Eu ando sozinha

por cima de pedras.

Mas a flor é minha.

 

Os meus passos no caminho

são como os passos da lua:

vou chegando, vais fugindo

minha alma é a sombra da tua.

 

Eu ando sozinha

por dentro de bosques.

Mas a fonte é minha.

 

De tanto olhar para longe,

não vejo o que passa perto.

Subo monte, desço monte,

meu peito é puro deserto.

 

Eu ando sozinha,

ao longo da noite.

Mas a estrela é minha.

 

Cecília Meireles

In Obra Poética