Conheço a residência da dor.

É um lugar afastado,

Sem vizinhos, sem conversa, quase sem lágrimas,

Com umas imensas vigílias diante do céu.

 

A dor não tem nome,

Não se chama, não atende.

Ela mesma é solidão:

Nada mostra, nada pede, não precisa.

Vem quando quer.

 

O rosto da dor está voltado sobre um espelho,

Mas não é rosto de corpo,

Nem o seu espelho é do mundo.

 

Conheço pessoalmente a dor.

A sua residência, longe,

Em caminhos inesperados.

 

Às vezes sento-me à sua porta, na sombra das suas árvores.

E ouço dizer:

“Quem visse, como vês, a dor, já não sofria”.

E olho para ela, imensamente.

Conheço há muito tempo a dor.

Conheço-a de perto.

Pessoalmente.

 

Cecília Meireles