HÁ EM MIM MULHERES
(para Maria Valéria Rezende)
Lua ineludível:
inúmeras faces
que tanto me despem
quanto me mascaram.
Fases tão diversas
e, no entanto, sempre
— sempre — a mesma lua:
muitas e nenhuma.
Ao meu lado um cão
gane o tempo todo.
O seu nome é medo,
sua voz é não;
Há em mim mulheres,
todas com seus cães
ganindo nos becos
deste corpo orbívago.
Há em mim mulheres
ensaiando ser
mais fortes que o medo,
maiores que o cão.
Há em mim mulheres
escolhendo a face
de uma nova lua.
Outras, o interlúnio.
Mulheres me habitam
feitas de coragem
embora nem saibam
que podem vencer.
Eu também duvido
vivo a sucumbir
mas depois revivo:
um dia seremos.
Sônia Barros
in Tempo de Dentro [Prêmio Paraná 2017]
Biblioteca Pública do Paraná, Curitiba, 2018
Imagem: pexels.com