Introdução à arte das montanhas
Um animal passeia nas montanhas.
Arranca a cara nos espinhos do mato, perde o fôlego
mas não desiste de chegar ao ponto mais alto.
De tanto andar fazendo esforço se torna
um organismo em movimento reagindo a passadas,
e só. Não sente fome nem saudade nem sede
confia apenas nos instintos que o destino conduz.
Puxado sempre para cima o animal é um imã,
numa escala de formiga, que as montanhas atraem.
Conhece alguma liberdade, quando chega ao cume.
Sente-se disperso entre as nuvens,
acha que reconheceu seus limites. Mas não sabe,
ainda, que agora tem de aprender a descer.
Fonte: Leonardo Fróes. Trilha. Poemas 1968-2015. Rio de Janeiro: Azougue, 2015, p. 25.