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Os sentimentos são paisagens áridas, imprecisas, tremeluzentes, desconfortáveis. 

Dito isto, poderia fechar a porta, correr as grades, trancar o cadeado, dar a loja por encerrada, sem previsões de reabertura.

Fechados lá dentro, os sentimentos, bem, seria como se não existissem 

Talvez morressem, se desidratassem, se pulverizassem, talvez deles restasse apenas uma mancha de gordura no chão.

Em qualquer caso, emudeceriam. Ou não seriam escutados, o que vem a dar ao mesmo. 

Nunca contemplei esta hipótese por mais de cinco minutos – certamente, nem tanto. 

Não consigo. Não sei. Julgo que, no fundo, é o que menos quero. E que essa é a raiz da minha resistência. Crónica e aguda.

Os sentimentos são onde sei viver, onde me sinto menos morto. 

Os sentimentos sou eu. 

Os melhores.

 Os piores. 

O beijo. 

A bala. 

(Ou vice-versa). 


Miguel Martins

Poeta português