Versos de Natal

 

Espelho, amigo verdadeiro, Tu refletes as minhas rugas, Os meus cabelos brancos,

Os meus olhos míopes e cansados.

Espelho, amigo verdadeiro,

Mestre do realismo exato e minucioso,

Obrigado, obrigado!

Mas se fosses mágico,

Penetrarias até o fundo desse homem triste,

Descobririas o menino que sustenta esse homem,

O menino que não quer morrer,

Que não morrerá senão comigo,

O menino que todos os anos na véspera do Natal

Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta.

 

Manoel Bandeira

In: BANDEIRA, Manuel. Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguillar, 1986.