Dir: Florian von Donnersmarck

Alemanha, 2006.

 

Há algum tempo, uma amiga me recomendou um filme, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2007, que tem o sugestivo título “A vida dos outros”.  No outro dia, ao encontrá-la, agradeci pelo presente que foi a recomendação.

 

Em 1984, cinco anos antes da queda do Muro de Berlim, a República Democrática Alemã busca assegurar seu poder por meio de um rigoroso e cruel sistema de vigilância sobre seus cidadãos, por meio da Polícia Secreta - Stasi. Na fria e cinzenta Berlim apresentada no filme, a beleza e os sentimentos nobres só surgem a partir da arte. É o teatro, a poesia e a música que se apresentam como portas abertas para se escapar da desumanização do regime autoritário e desumano.

 

O filme é denso, profundo, tocante. Os personagens vão sendo esculpidos gradativamente, revelando, pouco a pouco, a alma sufocada e os sentimentos calados. O argumento é precioso, o roteiro e as interpretações exemplares e o desfecho...um suspiro de esperança.

 

O capitão Grubitz (Ulrich Tukur) busca ser promovido com o apadrinhamento do ministro da cultura, um homem truculento que, interessado em manter um relacionamento com a atriz Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), sugere que se encontre evidências que incriminem seu namorado, o dramaturgo Georg Dreyman (Sebastian Koch), para que, desta forma, ele tenha o caminho livre para assediá-la.  Para isso, Grubitz convoca o fiel agente da Stasi,  Gerd Wiesler (Ulrich Mühe), para instalar escutas no apartamento dos dois artistas. O agente acredita que o círculo teatral está repleto de colaboradores do capitalismo, com ligação com Berlim ocidental.

 

Instalados os equipamentos de escuta, Wiesler se instala no mesmo prédio, no andar de cima, e se torna um voyeur das vidas alheiras (ainda que não veja, apenas escute). Por meio do seu ponto de vista, vemos se desenrolar a vida do casal. E, se nós, espectadores, nos identificamos com suas angústias, alegrias e dúvidas, não é diferente para o agente da Stasi.

 

O frio e objetivo Wiesler, pouco a pouco, se deixa afetar pela vida que pulsa no apartamento que vigia. À medida que ele se identifica com os sentimentos alheios, ele se humaniza. Em dado momento, ao receber uma triste notícia pelo telefone, que o deixa transtornado, o dramaturgo Georg se senta ao piano e executa a “Sonata para um homem bom”, de Beethoven. E diz: “será possível um homem escutar, verdadeiramente, esta música, e não ser bom?” No andar de cima, cercado por equipamentos de escuta secreta, Wiesler escuta, verdadeiramente, a obra de Beethoven...

 

Mas o melhor do filme, o desenrolar da narrativa e o fechamento surpreendente, deixo para que você, leitor(a), aprecie. E renove sua fé na existência humana.

 

Graziela Cruz

Mestre em Cinema pela UFMG e Professora da FAJE

01.07.2012