Aceitando o impossível, Rosa e Momo aprendem a sobreviver

Sophia Loren. Apenas o nome dela basta para iniciar a crítica. Uma das principais atrizes do mundo, e talvez a mais renomada da Itália, estava há mais de uma década longe dos grandes holofotes, após atuar ao lado de Daniel Day-Lewis e Penélope Cruz no filme Nine, dirigido por Rob Marshall, fazendo apenas breves aparições nas telas desde então. Mas como a aposentadoria nem sempre é a escolha mais fácil para quem respirou Cinema durante toda vida, como Sophia, ela retorna ao audiovisual sob a direção de ninguém menos que seu filho Edoardo Ponti, e mostra que ainda tem força e talento de sobra para atuar.

La Vita Davanti a Sé é o título original da produção que marca a volta de Sophia Loren. Mundialmente conhecido como The Life Ahead, o filme recebeu o nome de Rosa e Momo no Brasil. Se engana quem acha que a tradução feita não tem nada a ver com a história, Rosa e Momo são os protagonistas da trama. Rosa é uma ex-prostituda que, ao chegar na velhice, passou a cuidar dos filhos das colegas de profissão, e Momo é um órfão senegalês que, após perder a mãe, ficou aos cuidados do Dr. Coen. Todas as mudanças na vida do garoto acabam levando-o para o mundo do tráfico e do roubo.

Sem intenção de ser grandioso, a simplicidade do filme e o retorno de Sophia Loren são os principais fragmentos de sucesso da produção cinematográfica que vem dando o nome em premiações como o Globo de Ouro e o Critics Choice Awards,  concorrendo em ambas na categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Ibrahima Gueye que, dirigido com maestria, se fez notável ao lado da gigante Loren, recebeu a também indicação no Critics Choice Awards na categoria de Melhor Ator/Atriz Jovem.

Com apenas essa indicação à Canção Original ao Oscar 2021 fica o questionamento se veremos Sophia Loren, primeira atriz a ganhar o prêmio com um filme não falado em inglês e outro pelo conjunto de sua obra, e seu filho correndo em produções futuras pela campanha para o prêmio de Melhor Atriz, da mesma forma que tentou emplacar o curta de La voce umana de Edoardo Ponti, apresentado no Festival de Cannes em 2014. E foi pré-selecionada, mas não chegou à lista final da premiação com O que Sophia Loren Faria?, curta em documentário lançado pela Netflix esse ano.

Mas o verdadeiro destaque e que já conseguiu faturar um prêmio televisionado pra contaalém de uma indicação ao Oscar, é Io síA canção original de Rosa e Momo é assinada por Diane Warren – mulher com maior número de indicações ao prêmio da Academia sem nunca ter ganho – e magicamente interpretada pela inconfundível voz de Laura Pausini, que instiga o telespectador a assistir aos créditos para continuar apreciando a canção. Parte desse encanto talvez seja porque a trilha sonora deixa a desejar, à exceção de Malandro, cantada por Elza Soares, que rendeu a cena de Loren dançando, por momentos as faixas tocadas destoam da premissa inscrita no roteiro. 

Rosa e Momo encarna um roteiro forte com suas sutilezas que nos faz pensar horas a fio mesmo depois de seu término. O sacrifício de histórias secundárias permite que a produção atinja seu objetivo central, o de emocionar. O filme em sua totalidade pode não ser um primor, mas a direção sabe onde quer chegar e consegue elaborar um trabalho sequencial que não se perde durante a caminhada. A Canção Original foi a cereja no topo do bolo, dando melodia pra dança da trama. Ibrahim Gueye inicia sua jornada com potencial de abrilhantar muitos produtos culturais e Sophia Loren retorna completa e dona de si.

Ana Júlia Trevisan

in: persona, jornalismo cultural - https://personaunesp.com.br/rosa-e-momo-critica/