Filme: Amadeus (EUA, 1984)
Direção de Milos Forman, roteirizado por Petter Shaffer,
Elenco com: F. Murray Abraham, Tom Hulce, Elizabeth Berridge, Simon Callow, Roy Dotrice, Christine Ebersole, Jeffrey Jones.
Este filme foi o sucesso na noite dos Óscars. Na ocasião, ele venceu em quase todas as categorias mais cobiçadas: melhor filme, melhor diretor, melhor ator (F. Murray Abraham), melhor figurino (Theodor Pištěk), melhor maquiagem (Dick Smith e Paul LeBlanc), melhor direção de arte (Karel Černý e Patrizia von Brandenstein), melhor som (Mark Berger, Thomas Scott, Todd Boekelheide e Christopher Newman) e melhor roteiro adaptado (Peter Shaffer).
O filme vive a história de Mozart (Hulce), mas nos olhos e na mente de Salieri (Abraham), o antagonista. Nós passamos a conhecer quem é este personagem, assim como sua história de vida e valores.
Encontramos inicialmente Salieri, velho e decadente, em um hospício, confessando sua culpa. Do contrário do que se presume, nós nos identificamos com a sua frustração, tão brilhantemente transmitida através da atuação de F. Murray Abraham. Compositor da corte do imperador quando mais jovem, é tão devoto à música quanto à sua religião, mas vê seus esforços imensos – em se tornar o melhor músico – diminuídos, por testemunhar alguém, com talentos inalcançáveis, compor óperas grandiosas sem uma gota de suor. Assim, Salieri, consumido por um ódio e uma inveja tão grandes, relata ao padre em sua confissão, o plano que elaborou para matar Mozart.
Ocorre que, Salieri é dividido por sentimentos de amor pela música de Mozart, e ódio à sua pessoa, principalmente aquele gosto amargo de não poder negar quão perfeita suas obras são. É uma batalha interna que não tem fim. É a problemática da injustiça de sua vida, da busca por uma justificação divina para um talento tão grande (Seria Mozart o escolhido por Deus para tocar a Sua música?). Em conjunto com a interpretação do ator, a direção impecável dos precisos movimentos de câmara, em conjunto com uma trilha sonora maravilhosa (às vezes inserida no mundo diegético) sustentam todos esses sentimentos e casam perfeitamente com as cenas.
Tom Hulce, por sua vez, faz uma interpretação magnífica como Mozart. Ele é retratado com um ego tão grande quanto sua genialidade. Olhamos ele de acordo com a descrição de Salieri: um narcisista imaturo, de tal modo que os demais personagem pensam que ele é um vagabundo, quando, na realidade, trabalha o dia todo e batalha muito para conseguir algum reconhecimento, enquanto o único que realmente dá valor à suas obras é o próprio Salieri – ironicamente. Nós adoramos Mozart, e sentimos também todas as suas frustrações, principalmente no declínio de sua carreira e na sua relação com o pai.
Toda esta narrativa foi perfeitamente moldada com uma direção de arte e fotografia de qualidade, utilizando espaços, figurino e maquiagem que representaram a realidade da época e o mundo, no qual estamos inseridos. O luxo e a grandeza da nobreza da corte são filmados em planos abertos e cores claras, ao contrário do que vemos nos ambientes mais humildes, os quais são sempre representados em cores mais pálidas e escuras e planos mais fechados.
E é pelo amor à música que os personagens se unem, finalizando da maneira mais emocionante possível.
Gabriella Tomasi
Crítica de cinema, autora do site Ícone do Cinema, colunista para o site Cabine Cultural, membro do Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema - ELVIRAS. É escritora e tradutora voluntária para a ONU.