Filme "Nostalgia da Luz"
Patricio Guzmán -
Documentário - 90 min | Franca, Chile, Espanha, Alemanha, Estados Unidos
premiado em Cannes em 2010
Sinopse:
O Filme Nostalgia da Luz é um extraordinário documentário de Guzmán, premiado em Cannes em 2010 quando foi a grande novidade cinematográfica, na Europa.
De uma beleza plástica limpa e íntegra, A Nostalgia da Luz reúne de modo natural, três conteúdos fundamentais do nosso tempo: o retorno a uma qualidade inquestionável do verdadeiro cinema, um questionamento político que faz parte, cada qual ao seu modo, da vida de todos os cidadãos - mesmo os mais alienados da realidade - e a soberana poesia, que torna a existência humana suportável.
Com roteiro enxuto e preciso onde nada é demais nem de menos, o filme se passa no deserto do Atacama, no norte do Chile, o local mais seco do planeta. Lá, astrônomos, arqueólogos e mulheres – no início, elas eram um grupo de cinquenta mulheres, depois, não mais que dez porque envelheceram e, com o tempo, vão morrendo – procuram no espaço, na terra e na areia, rastros de estrelas mortas, vestígios de passados remotos e restos de homens e mulheres assassinados pelo regime de Pinochet que foram enterrados ou jogados de helicópteros militares, se não no mar, na imensidão desse deserto desolado.
“Vou procurar o meu noivo até morrer”, diz uma das mulheres espantosamente determinadas, em depoimento a Guzmán. Outra, em sua fala, com infinita tristeza prova como, com o ar seco da região, os ossos e os restos dos mortos se mantêm intactos, inclusive com as roupas usadas pelas pessoas quando foram abatidas: ”Encontrei um pé do meu irmão... reconheci pela meia dele ... levei para casa... quis ficar com o pé durante dois dias...”
Essas mulheres, da geração que chegou aos setenta, oitenta anos, são “a lepra do Chile”, como elas mesmas se dizem. Estão sós na sua permanente busca. É o único grupo de pessoas que, até hoje, procura por parentes assassinados sem o apoio das diversas instâncias de governo nem da própria sociedade. “Elas denunciam um país que os outros indivíduos desejam esquecer”, disse Guzmán.
Obsessivamente, essas mulheres escavam, com pequenas pás domésticas, e vão encontrando mínimos fragmentos de ossos. Constituem uma imagem impressionante da força da tragédia, raras vezes vista no cinema. O momento mais emocionante do filme é o narrador – o próprio Guzmán -, mostrando, através das lentes poderosas dos telescópios, as chuvas dos flocos de cálcio escorrendo, desolados, das estrelas, como lágrimas. O narrador lembra: ”Nós, humanos, somos feitos da mesma matéria das estrelas”.
Na época, Nostalgia da Luz ganhou entusiasmadas resenhas das mais sérias publicações europeias. Le Monde observou: ”É um filme extraordinário”. E L’Humanité: “ De uma beleza de tirar o fôlego”. Guzmán tem 74 anos, vive em Paris e é casado com uma psicanalista francesa, Renate Sachse - que foi a produtora de Nostalgia da Luz.
(adaptação de www.umacoisaeoutra.com.br)
Comentário:
Quem somos nós? De onde viemos e para onde vamos? Essas são as grandes perguntas do filme "A Nostalgia da Luz". Somos da mesma constituição das estrelas, dizem os astrônomos. O deserto como o universo é mistério de outra natureza.
O filme mostra o que o ser humano é capaz de fazer: buscar estrelas distantes e matar os filhos da pátria. O relato das mulheres que procuram pelo corpo dos seus entes queridos pelo deserto, como arqueólogas do passado é impressionante. O filme parece ser uma tentativa de tornar o passado vivo, presente. Mas, diz o astrônimo: o presente não existe, o que vemos é o passado. Uma crítica ao esquecimento que impera silencioso no Chile, parece ser o objetivo do filme, diante de uma sociedade que esquece rápido o que fez e as consequências do que fez. Belo o relato da filha de desaparecidos, que aprendeu a conviver com a dúvida e a dor.
O que vale na vida? Qual o sentido de tudo isso? parecem ser perguntas que também perpassam a narrativa do filme. As imagens da terra, do deserto, dos astros e dos corpos desaparecidos, parecem nos desafiar a pensar que somos mais, que há algo maior que tudo isso, que a vida é maior. Somos um ponto mínimo na vastidão do universo.
O centro da galáxia passa toda noite por Santiago do Chile. Nós nos desconectamos do cosmos e vamos nos esquecendo da nossa pequenez, diante da vastidão do universo e do mistério que tudo envolve.
No deserto a luz das estrelas fica mais evidente, o céu se mostra lugar de liberdade. Quando a noite invade tudo, as estrelas são como que guias na escuridão...
O deserto é muito simbólico para a espiritualidade cristã. É símbolo da nossa finitude e pequenez. É preciso passar pelo deserto para descobrir quem somos, sair das arrogâncias, auto-suficiências e descobrir o que é realmente essencial para viver. O deserto ensina o que é essencial. O deserto é lugar de encontro com Deus, luz da nossa vida. Também para o Pequeno Príncipe o deserto é lugar de encontro.
Nostalgia da Luz: nostalgia da verdade! Da verdade da nossa origem, do que aconteceu no passado.
Lucimara Trevizan
Equipe do Centro Loyola