Livro: Deus Analisado. Os católicos e Freud.

Autor: Ricardo Torri de Araújo

Edições Loyola, 2014.

 

A crítica freudiana da crença em Deus e da religião inaugurou um novo continente no pensamento ocidental. A partir da afirmação de Freud de que a origem da crença em Deus é o complexo paterno e, portanto, que a religião só pode ser pensada como neurose ou ilusão, inventada por um ser humano desamparado e carente, a reflexão teológica se viu desafiada a trabalhar com as novas hipóteses e a encarar novos desafios, até porque, se Freud tem razão, a religião está fadada a desaparecer, cedendo lugar a uma era científica.

 

O livro de Ricardo Torri de Araujo traz importantes contribuições a essa discussão, pois decorre sobre as relações pessoais de Freud com o fenômeno religioso e analisa a postura freudiana desde as origens e a evolução da vida  do fundador da psicanálise, pesquisando  com rigor as principais biografias que existem sobre ele, assim como seus escritos, sua correspondência e as críticas ao seu pensamento.

 

O autor pesquisa com rigor e precisão uma exaustiva bibliografia, oferecendo ao leitor um “estado da arte”  bem completa sobre a questão, e transita com desenvoltura pelos autores estudados, sobretudo  pelo pensamento freudiano sobre a religião.

 

Sua intenção é apresentar, diacrônica e sistematicamente, a critica feita por Freud à religião e é preciso reconhecer que  atinge magnificamente seu objetivo. Ao mesmo tempo, também narra a história da recepção da psicanálise pelo catolicismo. Se é verdade que a crítica de Freud , em um primeiro momento, se tornou maldita entre os católicos de sua época, não é menos verdade que hoje é impensável  um catolicismo e uma teologia católica que ignorem a psicanálise freudiana ou se  recusem a dialogar com ela.

 

O autor reforça esse diálogo reinstaurado afirmando, em  sua conclusão: “ Depois de um estranhamento inicial, na grande `fermentação´ que antecedeu o Concílio Vaticano II e, sobretudo, após a realização do mesmo Concílio Ecumênico, a Igreja olhou para a psicanálise com grande esperança. Não  poucos católicos passaram a frequentar a obra de Freud, e um  número “bíblico” de jesuítas entrou na escala de Lacan”.  

 

Embora reconhecendo que as grandes sínteses entre as duas disciplinas – teologia e psicanálise- ainda estão por ser feitas, é  inegável que , ao entrar em diálogo, ambas se enriquecem e suspeitam de suas próprias premissas e conceitos.

 

Nesse caso, é o conhecimento humano que se enriquece com esse diálogo. Não resta  dúvida de que este livro será uma grande contribuição para que isso aconteça.

 

(Maria Clara Bingemer)