A exposição que chega ao Brasil tem um nome bastante explícito, “A tensão” (e sonoramente ambíguo: quem não lê pode ouvir “atenção”), revelador de um dos prováveis sentimentos que os visitantes sentirão diante das instalações do artista. Isso porque Erlich trabalha com referências que são, literalmente, “lugares-comuns”, espaços que estamos acostumados a ver no dia a dia, mas deslocados da condição de normalidade. Como afirma o curador da exposição, Marcello Dantas, “a obra de Leandro Erlich é estruturada no mecanismo da dúvida. O que nossos olhos veem está em desacordo com o que nossa mente conhece”, sintetiza.
Leandro Erlich, nascido em 1973 e produzindo suas obras em seus ateliês em Buenos Aires e Montevidéu, está, assim, constantemente rompendo as fronteiras que normalmente acreditamos existir entre a realidade e a ilusão. Em entrevista ao jornal argentino Clarín, o artista explicou seu projeto: “Estou interessado principalmente em transformar elementos que as pessoas acreditam que não podem ser transformados, que não podem ser diferentes. Trata-se de uma utopia de apresentar a possibilidade de transformar o que existe em uma outra coisa, e essa ação nos convida a imaginar a realidade de uma maneira diferente”.
Uma das mais bem sucedidas experiências nesse sentido – que se tornou uma de suas obras mais populares e desconcertantes – é “Swimming Pool” (piscina, em português), que será instalada no pátio do CCBB Belo Horizonte. Atração onde quer que seja exposta, a piscina de Erlich provoca sensações absurdas tanto por quem entra nela – sem se molhar – quanto para quem está do lado de fora: uma camada de água entre um lado e outro cria a ilusão de que as pessoas ao fundo estão de fato mergulhadas numa piscina em que não precisam respirar.
Outra obra desconcertante e grande destaque entre as instalações de Erlich presente na exposição de Belo Horizonte é “Classroom”. Nela, quando o visitante adentra na sala, sua imagem é refletida num vidro, como se ele fizesse parte de uma cena diferente. Nessa cena, o visitante se parece com uma espécie de fantasma, como se estivesse numa sala de aula abandonada – as memórias de infância se projetam para um cenário de crise e de abandono.
Desse modo, a tensão provocada pelo artista é resultado não apenas de uma percepção aguda das possibilidades visuais de uma dada situação, mas também de uma preocupação com o próprio espaço que abriga as mostras, que se tornam, desse modo, únicas. A percepção da piscina em Belo Horizonte, num prédio histórico, será bastante diferente da provocada pela instalação no Malba, de Buenos Aires, por exemplo, um prédio bem mais moderno.
Justamente por dialogar com o entorno e com as experiências prévias dos visitantes, o trabalho de Leandro Erlich expressa como poucos nossa época. Como explica Marcello Dantas, essa é também uma sensação progressiva: “A cada etapa dessa viagem pela exposição, nos damos conta da relação entre expectativa, tensão e atenção que traduzem o espírito de um tempo de incertezas”.
Serviço
Exposição: “A tensão”
Artista: Leandro Erlich (1973-)
Onde: circuito Centro Cultural Banco do Brasil
Quando: Belo Horizonte, de 15.09 a 22.11.2021
Quanto: Entrada Gratuita – não há bilheteria física, os ingressos devem ser emitidos pelo site bb.com.br/cultura com apresentação do QR Code na entrada do CCBB
Atenção:
Para acesso ao prédio do CCBB Belo Horizonte é indispensável a emissão de ingresso online. Antes de agendar sua visita, leia com atenção as informações disponíveis em https://bit.ly/3y9mmDw, que fazem parte do novo protocolo de funcionamento do CCBB Belo Horizonte, conforme Decreto Municipal 17.361 de 22 de maio de 2020.
- Horário de funcionamento: de quarta a segunda, das 10h às 22h