“Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos”
+ Prepare-se para viver este momento denso da Última Ceia; disponibilize todo seu ser (sentidos, razão, afetividade, coração) para “sentir e saborear” este Mistério.
+ Um cuidado especial com os preâmbulos: oração preparatória, composição vendo o lugar, petição da graça...
+ Leia os “pontos para a oração”: isso pode ajudar a aquecer o coração para viver mais intimamente o encontro com o Senhor que está às portas de sua Paixão.
Mais uma vez a liturgia nos convida a “fazer memória” desta Ceia tão especial. Jesus havia transitado por muitas refeições, participado de muitas mesas (especialmente com os pobres e pecadores) e agora Ele nos deixa uma “mesa” como “marca” dos seus seguidores. Mesa da partilha e da inclusão, mesa da festa e da comunhão.
É em torno a esta mesa que os(as) seguidores(as) de Jesus se constituem como verdadeira comunidade.
Ao “recordar” a vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus, os cristãos se comprometem a prolongar os Seus gestos, atitudes, valores, compromissos... “Fazer memória” de Jesus junto à mesa é comprometer-se com a vida; é colocar a própria vida a serviço da vida.
Entre a traição de Judas e a negação de Pedro, Mateus colocou a instituição da Eucaristia
Deste modo, ele destaca para todos nós a inacreditável gratuidade do amor de Jesus, que supera a traição, a negação e a fuga dos amigos. O seu amor não depende do que os outros fazem por ele.
Jesus quer cear com os seus amigos e por isso precisam encontrar uma sala na qual haja espaço para estar juntos. O ritual pascal dá lugar aos gestos simples que se fazem entre amigos: partilhar o pão, beber da mesma taça, desfrutar da mútua intimidade, entrar no clima das confidências...
Jesus sempre buscou companhia; havia nele uma necessidade irresistível de contar com os seus como amigos e confidentes. Sua relação com eles vinha de longe: levavam longo tempo caminhando, descansando e tomando refeições juntos, partilhando alegrias e rejeições, falando das coisas do Reino. E continuará considerando-os como amigos, mesmo quando um deles irá traí-lo e os outros fugirão.
Nos evangelhos, nós encontramos pessoas que não faziam parte do grupo dos Doze e que revelaram uma presença que fez toda a diferença junto a Jesus. Viviam o verdadeiro sentido do seguimento, sem buscar prestígio, vaidade, poder, competição... Pessoas que se revelaram muito mais em sintonia com Jesus e sua proposta de vida do que os Doze. Uma delas foi a do homem do Evangelho de hoje: anônimo, mas deu sua contribuição decisiva e que ficou registrada na história; sua casa foi o lugar onde aconteceu a última Ceia.
Jesus era da Galileia, não tinha casa em Jerusalém. Nos dias da festa de Páscoa, a população de Jerusalém triplicava. Não era fácil para Jesus encontrar uma sala ampla para poder celebrar a Páscoa junto com os seus mais íntimos. Ele pede para os discípulos encontrarem uma pessoa em cuja casa decidiu celebrar a Páscoa. O Evangelho não oferece mais detalhes e deixa que a imaginação complete o que falta nas informações. Era um conhecido de Jesus? Um parente? Um discípulo?...
Aquele homem desconhecido, que abriu sua casa para Jesus, representa todos nós; cabe a nós mostrar o caminho do local da Ceia, cabe a nós preparar a mesa da partilha, abrir o espaço interior para acolhida, indicar o rumo que leva à casa do Pai. Orientadores(as) do povo de Deus, abrimos as portas da grande sala e a confiamos ao Mestre para que realize, ali, o imenso dom da Eucaristia, “como aquele que serve”.
Chama-nos a atenção, no Evangelho proposto para hoje, a maneira como Jesus indicou aos discípulos o local onde queria que a Ceia fosse celebrada. Ele mandou-os seguir um homem que encontrariam à entrada da cidade. Junto a personagens conhecidos nos Evangelhos, outros, sem rosto, nem identidade, nem prota-gonismo, surgem inesperadamente, deixando sua “marca”, como este desconhecido homem que emprestou sua casa para que Jesus e seus discípulos pudessem celebrar a Páscoa.
Anônimo perante a posteridade e seguido pelos que vinham detrás dele, este homem, de certo modo e do modo certo, serviu a Jesus como a Igreja deve serví-Lo, sem perguntar qual seria seu lugar à mesa.
O que teve lugar dentro de sua casa, transformada no mais importante templo material da história humana, seria mais do que suficiente para arrancar dele alguma expressão de vaidade capturada pelo evangelista. Mas não é isso que acontece com ele; oferece a casa sem perguntar quem viria celebrar a Páscoa, sem pedir garantias, sem cobrar aluguel pelo espaço; enquanto os sacerdotes e Judas pechinchavam o valor da vida de Jesus, este desconhecido, por pura gratuidade, oferece sua casa ao mesmo Jesus. Certamente, ele e sua família foram testemunhas desta ceia única e especial, e que será a marca de todo(a) seguidor(a) de Jesus.
Ontem o Evangelho falou da traição de Judas e da negação de Pedro. Hoje, fala novamente da traição de Judas. Apesar da convivência de quase três anos, nenhum dos discípulos ficou para tomar a defesa de Jesus. Judas traiu, Pedro negou, todos fugiram. Mateus, no Evangelho de hoje, quer ressaltar que o acolhimento e o amor de Jesus superam a derrota e o fracasso dos discípulos. Ele deixa entender que nós podemos romper com Jesus, mas Jesus nunca rompe conosco. O seu amor é maior do que a nossa infidelidade.
Estando todos reunidos pela última vez, Jesus anuncia quem é o traidor. É "aquele que põe a mão no prato comigo". Para os judeus, a comunhão de mesa, colocar juntos a mão no mesmo prato, era a expressão máxima da amizade, da intimidade e da confiança. Mateus nos indica que, apesar da traição ser feita por alguém muito amigo, o amor de Jesus é maior que a traição.
Que aconteceu no coração de Judas nessa noite da Última Ceia? Rodeado de um mundo de mistério, de um clima de bondade, de amor e salvação, e, no entanto, o coração de Judas está em outro lugar. Está impermeável à verdade que se celebra; está seco em seu interior, fechado ao mistério da graça.
Poucas experiências destroem alguém por dentro como a traição.
A traição que, à primeira vista, pode parecer ser prejudicial apenas àquele que foi traído, de maneira geral, vem acompanhada de um forte sentimento de culpa para o traidor. E ao sentir a culpa pela traição, a pessoa entra em conflito emocional; algumas caem até no desespero.
Aquele que traiu sofre, pois este não confia em si mesmo, não consegue acreditar que mereça confiança. O traidor condena-se à solidão e à culpa existencial, destrói-se e destrói todos ao seu redor, culpando o mundo por seu sofrimento; trai-se a si mesmo, torna-se, aos seus próprios olhos, um monstro, não merecedor de amor, o que o leva a trair mais ainda.
Se a pessoa trai a si mesma, ela fracassa em sua busca, frustrando-se na tentativa de realizar-se enquanto ser humano. E, na ausência de respostas, angustia-se mais, trai mais, atropela os outros que a amam, machuca a todos ao seu redor, procurando justificativas para seus atos e destruindo-se a si mesma em cada nova tentativa de ser amada.
+ Leia atentamente o relato do Evangelho indicado para hoje: Mt 26,14-25
+ Prepare-se para uma contemplação. Com a imaginação, faça-se presente à cena, indo com os discípulos para preparar o ambiente da Última Ceia.
+ Procure ativar todos os sentidos: olhe as pessoas da cena, escute o que elas dizem, observe o que elas fazem, saboreie o pão e o vinho dados a você por Jesus...
+ Participe, com alegria, deste evento único; deixe-se afetar por tudo o que acontece durante a refeição.
+ Faça um colóquio ao Senhor: converse com Ele sobre os sentimentos contraditórios que nascem da fidelidade d’Ele e da traição de Judas.
+ Termine a oração, dando graças a Deus por este momento tão intenso; se possível, registre os apelos, luzes, inspirações, que brotaram da oração.
Pe. Adroaldo Palaoro sj
13.04.22