Neste segundo domingo do Advento (6.12.2020), duas vozes falam da vinda de Deus: Isaías e João! Vozes despertas para animar o povo peregrino: o Senhor vem com o poder da ternura, traz no peito os cordeirinhos e conduz mansamente as ovelhas-mães... Ternura de Deus, poder possível a cada ser humano. Os dois profetas usam o mesmo verbo, num eterno presente: Deus vem, viajante dos séculos e dos corações, vem como semente que se torna árvore, como fermento que faz crescer a massa, como perfume de vida para a vida. Há quem saiba ver os céus refletidos numa gota de orvalho, o profeta vê o caminho de Deus no pó dos nossos caminhos.


Deus aproxima-se no tempo e no espaço, dentro das coisas de todos os dias, à porta da sua casa, a cada nosso despertar. Mas, há muitas pessoas que já não conseguem acreditar em Deus: não porquê o rejeitem. É que não sabem que caminho seguir para encontrar-se com Ele. E, no entanto, Deus não está longe. Está presente (escondido) no interior da vida! Deus segue os nossos passos, muitas vezes errados ou desesperados, com amor respeitoso e discreto. Como perceber a sua presença?


Marcos recorda-nos o convite do profeta em meio ao deserto: «Preparai o caminho ao Senhor, endireitai as suas veredas». Onde e como abrir caminhos a Deus nas nossas vidas? Não devemos pensar em avenidas ou vias expressas por onde chegue um deus espetacular. Deus vem na contramão, lembra-nos Dom Helder! Ele se aproxima da gente procurando as frestas, as brechas, que as pessoas mantêm abertas ao verdadeiro, ao bem, ao belo, ao humano. São esses resquícios da vida que temos de acolher para abrir caminhos a Deus.


Para alguns, a vida tornou-se um labirinto. Ocupados em mil coisas, movem-se e agitam-se sem cessar, mas não sabem de onde vêm nem para onde vão. Abre-se neles uma fresta para Deus quando param para se encontrar com o melhor de si mesmos.


Há quem viva uma vida «descafeinada», plana, superficial e imediata em que a única coisa importante é estar entretida, ocupada. Só poderão vislumbrar Deus se começam a atender ao mistério que bate no fundo da vida.


Outros vivem submersos na «espuma das aparências». Só se preocupam com a sua imagem, do aparente e externo. Estarão mais perto de Deus se procurarem com simplicidade a verdade.


Quem vive fragmentado em mil pedaços pelo ruído, pela retórica, ambições ou pressa, darão passos em direção a Deus se se esforçarem por encontrar um fio condutor que humanize as suas vidas.


Muitos irão encontrar-se com Deus se souberem passar de uma atitude defensiva perante o divino para uma postura de acolhimento; do tom arrogante à oração humilde; do medo ao amor; da autocondenação ao acolhimento do Seu perdão. E todos nós daremos mais espaço para Deus nas nossas vidas se O procurarmos com um coração simples em meio aos simples e marginalizados.


No princípio, o Evangelho de Jesus! Pode-se começar de novo, mesmo quando a vida está imobilizada, pode-se partir novamente e abrir futuros. Início de uma bela notícia... daqui, só a partir de uma boa notícia se pode recomeçar a viver, a projetar, a apertar laços, e nunca partindo da amargura, dos erros, do mal que assedia. E se alguma coisa de mau ou doloroso nos aconteceu, o perdão torna-se boa notícia, que lava os recônditos mais obscuros do coração.


No princípio, uma bela notícia que é Jesus! Ele, mãos implicadas na densidade da vida, narrativa da ternura de Deus, anúncio de que é possível, para todos, viver melhor, e que a chave está no Evangelho! O bom futuro é Deus cada vez mais próximo, próximo como a respiração, próximo como o coração, perfume de vida.


O mundo está hoje mais próximo de Deus do que ontem. Como se comprova pelo crescimento da consciência mesmo em meio a ignorância, do anseio da liberdade mesmo em face de novas escravaturas, o florir do feminino frente a tanto feminicídio, o respeito mesmo em meio ao preconceito, o cuidado pelas pessoas com deficiência apesar da mentalidadede exclusão, o amor à casa comum apesar do desperdício...


A boa-bela notícia é a nossa história está grávida de futuro bom para o mundo todo, porque Deus está cada vez mais próximo, próximo como um abraço. E perfuma de vida a vida de cada um de nós. Amém.


(Pe. Paulo Roberto Rodrigues, 06.12.2020 - no segundo domingo do advento)

(adaptação de um texto de José Antônio Pagola e Ermes Ronchi)

Imagem: pexels.com