Talvez seja o Natal que se aproxima, talvez seja apenas dezembro, quem sabe o fim de ano. Não importa a correria desses dias, que só tende a aumentar com o avanço do mês, alguma coisa permanece no ar. Mais um ano se passou, cumprimos parte das promessas feitas no já distante janeiro, desistimos de outras e de algumas nos esquecemos. Um tempo transcorreu e foi, bem ou mal, vivido. Resta, entretanto,  alguma coisa de inconcluso, um gosto indefinível na boca, um sentimento de estranheza no coração. Vasculhamos aqui e ali, refazemos as contas, percorremos os caminhos uma vez mais e, mesmo assim, há uma sobra que não tem como ser removida.

 

 

O fim de ano, Natal à vista, é uma interrupção, uma suspensão das atividades, um espaço que se abre, um silêncio que se impõe. E aí talvez descubramos, perplexos, que não somos prisioneiros das nossas ocupações habituais, que o tempo não deve ser preenchido com tanta ansiedade e que precisamos dar mais lugar ao que vem desse país distante que somos nós mesmos. Mas é, então, compreensível nosso susto: estaremos às voltas com o enigma de que somos feitos, com os pedaços que nenhuma habilidade é capaz de juntar. Não encontraremos nenhuma identidade definitiva na qual repousar, nenhuma resposta confortadora, apenas, aqui e ali, o que parece ser, isso sim, um rastro, o sinal de uma passagem, a indicação de uma presença possível. Sem qualquer certeza. Não obstante, cabe a nós suportar. Ao invés de nos diluirmos no que nos cerca mais imediatamente, talvez fosse melhor acolher a penumbra a que, enfim, pertencemos. Assim, a estranheza que dezembro costuma trazer, mais do que algo a recear, talvez possa vir a ser uma experiência de rememoração do peregrino que nos habita e que, desde sempre, todos somos.

 

Para pensar na quinzena:

“ ... a intimidade humana vai tão longe que seus últimos passos já se confundem com os primeiros passos do que chamamos de Deus”. (Clarice Lispector, A descoberta do mundo)    

           

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

16.12.2013