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Parafraseando o texto bíblico, talvez devamos dizer que assim como há horas de proclamar, de alardear o que pensamos, há, também, horas em que o recomendável é  escutar. Se nenhuma narração disponível é capaz, minimamente, de nos reunir, e se desistir está fora de questão, quem sabe não é caso de fazer como o velho marinheiro que durante o nevoeiro toca o barco mais devagar?  Talvez o nosso tempo seja mesmo, ou deva ser, um tempo de escuta mútua. E a escuta, mútua, é um passo além da diversidade. Se o começo é a afirmação da diferença, reação legítima a uma uniformidade que mais cerceava do que abrigava, o passo seguinte não pode ser a indiferença, disfarçada de respeito ao quadrado de cada um. Diferenças assinalam a infinita complexidade da existência humana, as variadas formas de interpretar o silêncio que está na nossa origem. Diferenças, entretanto, não são confinamentos, são respostas distintas a aquilo que, no nível mais fundamental, nós compartilhamos: a condição humana, suas dores, seus deleites. Se somos estranhos enquanto espécie, não somos estranhos uns aos outros, somos, isso sim,  feitos de uma mesma matéria, a condição humana. Ao invés da brutalidade suicida da inclinação mais imediata – o recurso sempre fácil, e inócuo, ao medo e ao ódio -, pode ser que  seja hora de ouvirmos uns dos outros as histórias a que pertencemos e o que elas nos ensinam sobre o bem e o mal, o justo e o injusto, a felicidade e a infelicidade. Talvez, assim, o nevoeiro se dissipe um pouco.  

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola