Aprenderemos com a pandemia, seja individualmente, seja socialmente? Ou o coronavírus, uma vez deixado para trás, via medicamentos ou vacina, será esquecido, mesmo que hoje isso pareça impossível? Talvez não, já que alguns dados, queiramos ou não, se tornaram para lá de evidentes: a desigualdade social  brutal, a alarmante destruição da natureza, a necessidade de contar com mais e mais recursos de conhecimento, o papel decisivo do Estado. Já sabíamos de tudo isso? Talvez, mas não de forma tão crua e tão dolorosa como nesse tempo. 

Alguns países já ensaiam cenários pós-epidemia: fala-se de decrescimento, de redução do consumo, de uso de energias renováveis, de um cuidado permanente com a natureza. De um modo geral, isso quer dizer que não seguiremos na direção habitual. Sem entrar no mérito de quais dessas medidas podem ser estendidas a países como o Brasil ou outros semelhantes, em que direção elas apontam? O que nelas indica uma mutação que, com algum exagero, pode ser chamada de civilizacional? Podemos ainda perguntar: onde localizar a virada que deu margem a esse estilo de vida que ora cogitamos de abandonar?  São só perguntas, mesmo porque, agora, quaisquer respostas seriam apressadas. 

Podemos ir um pouco além, com a mesma disposição de apenas perguntar, quais as relações entre  o modo como vivemos, o modo como o mundo se organiza para nós, o modo como vivemos em comunidade e as ideias, os princípios mais gerais que  sustentam tudo isso. Essa civilização à qual ainda pertencemos, e que chamamos de moderna, está escorada em quais grandes ideias ou princípios? Somos capazes de identificá-los? E neles é possível separar o joio do trigo, o que deve ser mantido e o que deve ser abandonado?  Mesmo que tais questões pareçam muito vastas, e o são, devemos nos lembrar de que civilizações perduram conforme a sua capacidade de enfrentar os desafios com os quais se defrontam. E os que estão postos ao nosso tempo, ao nosso mundo, não são pequenos.

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

11.05.2020