O tema do ateísmo é sempre interessante, seja pela paixão que costuma despertar, seja pela oposição que sempre encontra, seja pelas consequências de um debate que se estende pela cultura. Claro, há os indiferentes, mas essa é sempre a posição mais fácil, o que quer dizer, destituída de qualquer disposição argumentativa, desapaixonada daquilo que inquieta da humanidade. 

Talvez uma primeira questão seja a pergunta sobre de que Deus, de que imagem ou conceito de Deus, alguém se define como ateu. Antes de escutar o que o ateu tem a dizer, é preciso que esse ponto seja esclarecido. Certamente que ele pode responder: ateu em relação a qualquer Deus. Ora, isso não o exime de esclarecer o universal conceito de Deus que tem em mente.  Religiões diversas pensam diversamente acerca de Deus, Deus não faz sua morada exclusivamente na religião e há os que defendem que um dos traços que devem ser associados a Deus é a impossibilidade de traduzi-lo em termos da racionalidade. E há afirmativas não tanto sobre o conceito, mas que têm em a experiência de Deus, que merecem atenção especial, como é o caso da tradição mística.

Prescindindo de tudo isso, a declaração de ateísmo perde muito do seu interesse e de sua capacidade de gerar um debate consequente.  Sendo o caso de abrir mais o debate, talvez venha ser interessante examinar em que imagem de Deus se apoiavam alguns defensores clássicos do ateísmo, tais como, entre outros, Marx, Nietzsche ou Freud.

Ricardo Fenati

30.07.2024

imagem: pexels.com/stevejohnson