Neste momento em que a questão ética está novamente em cena, é mais do que apropriado perguntar pela dimensão ética do cristianismo. Do ponto de vista público, por motivos os mais variados, a ética e a moralidade associados ao cristianismo são reduzidas, quase sempre, a um conjunto de proibições, todas impeditivas do florescimento humano. Num cenário que se proclama libertário, como esse em que vivemos, isso tende a impedir que o cristianismo tenha uma presença significativa nos debates em curso no campo da ética. Mas reduzir a ética cristã a uma lista de interdições é aceitar a plausibilidade de uma caricatura mais do que empobrecedora. Diante disso, cabe um reiterado esforço para conferir mais credibilidade à perspectiva cristã da ética, seja assentando-a em bases mais próximas das fontes cristãs substantivas, seja mostrando sua capacidade de enfrentar questões inéditas, próprias do nosso tempo.
É possível ver nos debates éticos a polarização entre o que se poderia chamar de expressivismo ético - cada um de nós é o fundamento e a garantia da legitimidade das nossas ações - e o recurso às ciências, como se delas pudesse provir a sustentação de uma ética. Nenhuma das duas alternativas, ao que me parece, é satisfatória e nenhuma delas é compatível com o pensamento cristão. Talvez haja aí um intervalo, um espaço vazio que permita o aparecimento de alguma alternativa, próxima ao cristianismo, que possa ser pensada. Não pode ser essa a direção do esforço acima indicado?
Para pensar na quinzena:
"Se nós não falarmos do homem tal como ele é (na sua) fragilidade, de quem ou do que estaremos falando?" (Adolphe Gesché)
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
01.12.2012