Se somos, como Aristóteles dizia, animais políticos, animais que vivem, e, como humanos, só podem viver, na presença uns dos outros, daí não se segue que contemos com uma espécie de instinto que nos assegure, de imediato, uma convivência propiciadora de felicidade ou, pelo menos, de paz. Somos atraídos pelo outro, sem que, entretanto, possamos lançar mão de qualquer mapa ou orientação para chegar até ele. A contigüidade física não nos auxilia: não raro, ainda que sós, estamos mais próximos das pessoas do que quando imersos numa multidão. Se nosso olhar estará sempre voltado para o outro, como Aristóteles parece sugerir, é porque percebemos que somos, de alguma forma, incompletos e que algo que nos diz respeito se encontra nele.
Posta a relação, vem junto com ela o risco. Ao invés de sairmos de onde estamos, de nos movimentarmos, dependuramo-nos no outro, fazendo-o provedor de nossas necessidades e não destinatário do nosso desejo. Sendo essa a escolha, não apenas ignoramos a singularidade do outro, mas, sobretudo, escorados nele evitamos encontrar o que só em nós se acha. O que parecia ser uma confirmação de nossa disposição sociável nada mais é, de fato, do que um egoísmo brutal e doloroso.
Mas, se em vez da dependência, é a confiança que nos move, o cenário não é o mesmo. A confiança envolve o acolhimento de nossa fragilidade, fragilidade mútua, e a coragem de trilhar um caminho desconhecido, tornado possível pela presença do outro. E não poucas vezes acabaremos por reconhecer que é só através de um outro, respeitado na sua singularidade, que chegamos a nós mesmos, encobertos que estávamos pela voracidade do nosso egoísmo.
Nada é simples, nada é garantido, mas alguma sabedoria é sempre possível se nos lembrarmos outra vez de Aristóteles, quem, um dia, disse que a virtude, e a convivência é uma virtude, se aprende sendo virtuoso.
Para pensar na quinzena:
“Amar se aprende amando” (Carlos Drummond de Andrade)
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
30.04.2013