Entre os novos direitos reivindicados, alguém bem que poderia incluir o direito ao silêncio. Não o silêncio quando é a palavra que se torna necessária e nem o silêncio imposto a aqueles cuja voz jamais deveria ser silenciada. O silêncio de que falo é esse que permite a escuta e propicia a reflexão, esse que recusa a pressa da palavra, sempre ansiosa por ocupar todos os espaços. Um outro silêncio, o que ao invés da palavra, mesmo a bem intencionada, sustenta a contemplação silenciosa e reverente do mistério que nos envolve, sejam as pequenas epifanias do cotidiano, seja o espanto maior diante do milagre da existência. Talvez o silêncio vá adiante e nos mostre que, para além da gramática que organiza e disciplina a linguagem, há um ritmo nos sentimentos, há aí uma ordem sutil, que o cuidado propiciado pelo silêncio permite acompanhar. O silêncio distende o tempo, amplia o espaço e permite que sintamos os mundos que brotam na mesma medida em que guardamos nossas palavras.
Uma tradição conhecida lembra que ao nomearmos Deus, não é Deus que nomeamos. É bem possível já que nossas palavras, que tanta serventia mostram, aqui são de pouca ajuda. O silêncio não é mais eloquente aqui, onde tudo o que temos é o rumor inesgotável que vem de Deus?
Ricardo Fenati
03.11.2021
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