Na coluna passada, falamos da tese de que a educação é a fronteira por onde o País pode avançar. O que é correto, mas que, ao mesmo tempo, deve abrir um debate que concerne a todos nós. É preciso esclarecer o que entendemos por educação, senão estaremos correndo o risco de nos contentarmos com um clichê, o que é sempre empobrecedor e destituído de conseqüências. Boas escolas, professores bem formados e corretamente remunerados, escolas de tempo integral, políticas de Estado e não de governo, isso, como sabemos todos, é o alicerce sobre o qual há pouca ou nenhuma discordância. Vivemos, e viveremos cada vez mais, nas chamadas sociedades do conhecimento. Dada, então, a onipresença do conhecimento, uma educação qualificada é condição de cidadania e deve ser entendida como um dos direitos de última geração. Privados do conhecimento, estaremos privados dos benefícios disponibilizados pelo desenvolvimento. Carreiras profissionais, para citar um exemplo, exigem cada vez mais o domínio de tecnologias decorrentes do conhecimento, sempre com algum grau de sofisticação. Até aqui parece claro o que deve ser feito: estender a faixas cada vez mais amplas da população o acesso á educação continuada e de nível satisfatório.
Embora esse desafio seja, por si só, gigantesco, outro desafio, de proporções ainda maiores, o acompanha. Para além da educação voltada para áreas de aplicação mais imediata, nas quais o consenso é bem possível, outra dimensão da educação se impõe. A que se refere a valores, ideais ou normas, capazes de dar origem a pactos que viabilizem a uma convivência menos violenta do que do que a habitual. Se restringirmos os nossos acordos aos campos onde o consenso é mais fácil, capitulando diante da ideia de que nas questões mais propriamente humanas o relativismo se impõe necessariamente, será inevitável um crescente e cada vez mais insuportável rompimento do tecido social.
Talvez a demanda por mais educação se refira, mesmo que involuntariamente, a esse receio de que, na ausência de um compartilhamento mais espalhado de valores, estaremos condenados a uma vida humanamente miserável, mesmo que materialmente próspera. Não há, por ora, solução à vista, mas a percepção do problema já é um passo significativo.
Para pensar na quinzena:
“Os homens nasceram uns para os outros: educa-os e padece-os” (Marco Aurélio)
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola