Tem sido costume reduzir o Natal a uma troca de presentes. De alguma maneira, o presente dado é acompanhado do nosso afeto e o recebido nos remete, por pouco que seja, à nossa infância. E toda infância é feliz, pelo menos quando é recordada. Podia ser diferente, a convivência fraterna e a disposição para a bondade podiam estar mais bem distribuídas pelo ano. Estão certos, então, os que apenas lamentam a banalização do Natal, o esquecimento do que está sendo comemorado, o consumismo desenfreado? Talvez, mas carecemos de suporte simbólico e de ideais culturais nos quais possamos nos reconhecer e dos quais possa provir a sensação de pertencimento que torna a vida, mais do que suportável, uma experiência aprazível. Apegamo-nos ao palpável, a essa alegria ligeira que vem dos presentes, à maneira de um substituto, de algo que simule o que, estando ausente, deveria estar presente. E se segue a mesa excessiva, a competição pelo melhor presente, a euforia descontrolada. São os tempos. Mas, sabemos, não somos feitos para isso, não somos feitos disso. Daí a discreta, mas firme, presença de uma certa melancolia, de uma nostalgia à maneira de uma chuvinha fria, do desejo de um bem indecifrável. Quem sabe não é aí, nessa falta que não temos como nomear, que está o Natal? Não é ela que nos recorda que a vida transborda de quaisquer limites, mesmo os que parecem vir da saciedade? Não é ela que nos lembra que somos peregrinos, inquietos, inconformados com qualquer pouso, viajantes sempre nascentes? Que nesse Natal do ano de 2015 possamos exercer, sem qualquer amargura e sob o olhar alegre do Menino, o direito a uma certa melancolia.    
 
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola