Há muito o que aprender
A Covid-19, que continua a ser negada nas aglomerações, festas familiares, bares lotados, nem por isso passará sem deixar cicatrizes. Não de imediato, pelo contrário, é de se esperar uma euforia assim que o vírus for derrotado ou tiver o seu impacto bem atenuado. Será como o fim de uma guerra e gerará uma alegria mais que compreensível, uma alegria, podemos dizer, proveniente daquilo que em nós quer sobreviver sempre.
Passada a justificada euforia, nessas zonas mais reflexivas ou sensíveis da cultura, no pensamento e na arte, talvez recuperemos um velho problema, ocultado pela crescente ilusão da onipotência humana ao longo da modernidade. Talvez um sentimento de receio e uma desconfiança silenciosa nos levem a recolocar não apenas o problema, vamos dizer, científico, na lida com a natureza, mas um problema mais agudo, o que se refere, é esse o velho problema mencionado acima, ao lugar da humanidade no universo, o sentido de nossa presença no Cosmos. As direções e perspectivas são muitas e vão desde a defesa de uma solidão dolorosa até a afirmação de uma aliança inesperada. Mas isso virá com o tempo. Por ora, quem sabe, passaremos a construir nossa habitação não apenas na história, como é próprio da modernidade, mas também no Universo, tal como ocorreu no judaísmo, no cristianismo e com os gregos.
Talvez reaprendamos a experiência de nossa pequenez diante, não apenas de algo que desconhecemos, o que gera uma humildade legítima, mas também diante do mistério, esse júbilo sereno que talvez seja nossa morada definitiva.
Ricardo Fenati
Equipe do Centro Loyola
13.01.2021