Horizonte é o que está além de nós mesmos, o que está, ainda, ao longe. E é o que, criando um intervalo, nos permite caminhar. Sem horizontes, ficamos confinados, sem espaço. Podemos estar diante de horizontes físicos como os que se apresentam à nossa vista, muitas vezes ocultados pela desorganização urbana das cidades que habitamos. Ou diante de horizontes simbólicos, esses mais sutis, cuja perda ou ocultação é mais difícil de perceber.
Horizontes simbólicos decorrem de crenças, de valores, de ideias, à luz dos quais lidamos com o ofício de existir. E que material é esse? É o que nos lembra da beleza, da bondade, do amor, da coragem, da verdade, da justiça, da alegria e do Sentido. Nada disso está à mão, nada disso nos é entregue sem trabalho, pelo contrário, tudo depende de um percurso, de uma caminhada, de um alargamento de nós mesmos, enfim, de uma aventura que é, ao mesmo tempo, pessoal e civilizatória. Estando ao longe, criam a possibilidade e a necessidade de uma caminhada, ainda que em meio à incerteza e à imprecisão.
Entretanto, como é frequente ocorrer nos assuntos humanos, há um risco. Podemos trocar a distância do horizonte pela urgência do nosso interesse, pelo que nos cerca mais imediatamente: mais dinheiro, mais poder, mais prazer, mais ideias prontas. Desaparece o intervalo que propicia o horizonte e imaginamos que, recusando as perguntas, as respostas serão entregues a nós. Não serão.
Se é verdade que esses dois caminhos sempre estiveram presentes na história, não é menos verdade que nossa época apresenta uma coloração inédita: de um lado, nunca zelamos tanto pela saciedade imediata, nunca o prazer, o poder, a acumulação material e as ideias prontas foram tão prezados e, de outro, a cultura nunca esteve tão empobrecida no que diz respeito a ideais mais distanciados da vida imediata, tornando, assim, mais estreitos os horizontes.
Somos mesmo uma época mais humanizada?
Ricardo Fenati
Equipe do site