Humanismo é uma dessas palavras às quais, quase de imediato, damos nossa adesão. Parece consistir numa defesa do que é propriamente humano, combatendo o que ameaça destruir nossa integridade. Assim desafiar o humanismo seria opor-se ao humano, colocar-se ao lado das forças que aviltam, de algum modo, nossa existência.

Considerando historicamente, o humanismo brota no Renascimento, como se pode ver na célebre Oração sobre a Dignidade Humana, de Picco della Mirandola, prossegue no iluminismo  e desemboca, mais à frente, na ênfase na história, lugar e tempo onde o humano, liberado de qualquer tutela, iria, enfim, se constituir. 

Entretanto, o cenário não é mais tão simples assim. 

Há os que enxergam no humanismo uma valoração indevida do humano frente ao que também constitui parte do mundo. A própria natureza teria, metaforicamente falando, seus direitos, o que é defendido pelos esforços oriundos da sensibilidade ecológica. As demais espécies, é o que se defende às vezes com um exagero que resta por ser compreendido, não devem estar à disposição dos humanos. 

Há também os que, diante dos impasses a que chegou o ideário iluminista, negam qualquer possibilidade de uma compreensão mais alargada do humano e cedem o espaço a um relativismo morno, sempre cativo do tempo e do lugar.. 

Outros se entusiasmam pelas possibilidades decorrentes dos desenvolvimentos da biologia contemporânea e insistem em inscrever o que haveria de propriamente humano na cadeia causal que é comum a quaisquer espécies vivas. 

Mas isso será tudo mesmo? A tradição humanista está com os dias contados? E a relação entre humanismo e cristianismo? Vamos prosseguir a discussão na próxima coluna.

Ricardo Fenati

Equipe do site