Retomo a conversa da quinzena passada.
Itinerários, os que aqui nos interessam, são formas de chegar até nós mesmos, esse território sempre por explorar. E se nossa disposição, como vimos, for de lançar mão do que ainda não está pronto, acolhendo e respeitando a singularidade que nos constitui, é hora de partir. Sem receio de nos escutarmos, mas, também, sem dispensar a boa companhia dos que já percorreram regiões mais remotas ou caminhos muito inusitados. Não os físicos, mais os existenciais. De nós, sabemos um pouco, mas que boa companhia é essa? Onde está o que, sem fazer o que apenas a nós cabe fazer, pode ser de valia? Sugiro a poesia, mas pode ser a literatura ou a arte de uma forma geral. Se a poesia é um bom mapa, é porque aponta caminhos que a todos dizem respeito, ao poeta e aos leitores, a todos, enfim. Sem nos uniformizar, nos aproxima. Sem usurpar a nossa solidão, nos deixa a todos próximos uns dos outros. A poesia sempre nos põe em cena de uma forma sempre nova porque originária e lembra que somos melhores quando não nos escondemos. Portanto, se estamos de partida, e sempre estaremos, saibamos ou não, o melhor é se valer da poesia, esse mapa que enriquece o território.
Um mapa para a quinzena:
Kant (relido)
Duas coisas admiro: a dura lei
cobrindo-me
e o estrelado céu
dentro de mim.
(Orides Fontela)