Itinerários brotam da percepção de que os caminhos disponíveis já não nos satisfazem ou já não nos parecem suficientes. Havendo um bom caminho, trilhado, percorrido, demarcado, quem pensaria em itinerários? Temos, aqui e ali, é certo, estratégias bem sucedidas e boa parte do nosso esforço consiste em continuar respondendo aos desafios que o mundo, na diversidade de seus aspectos, não cessa de nos apresentar. Multiplicamos assim os caminhos e afastamos, na medida do possível, as dificuldades. Mas se devemos lidar com o mundo que nos rodeia, não é menos verdade que somos, também, uma oficina debruçada sobre nós mesmos. E, nesse caso, a incerteza é maior, a inconstância é mais premente, o trabalho é mais alargado. Intérpretes do real que somos, quando a existência é a nossa a paisagem não é tão clara, o enredo é intrincado e o sentido parece, sempre, nos ultrapassar.

 

Estará sempre disponível a sedução de delegar a outros esse ofício. Aos que nos rodeiam, às instituições a que  nos vinculamos, aos valores do tempo ou da sociedade a que pertencemos ou, enfim, ao mais fácil  de nós mesmos. Mas, assim procedendo, não estaremos nos distanciando do que é o mais real, a experiência de nossa singularidade, daquilo que diz respeito apenas  a nós?

 

Diante de nós mesmos, sem indicações que nos sejam entregues, que mais podemos fazer senão redobrar a atenção e, aos poucos, reconhecer o desejo de que somos feitos? É isso que se chama um itinerário?

  

Para pensar na quinzena:

“É preciso salvar a qualquer preço tua alma de peregrino” (D. Hélder Câmara)    

 

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola de BH.