Do Pe. Libânio, que acaba de partir, muitas coisas podem ser ditas e ainda assim restará sempre o que dizer. Ao contrário de muitos de nós, apegados a uma rotina tão confortável quanto empobrecedora, Pe. Libânio transbordava sempre. Sacerdote, formador, professor, teólogo, escritor, conferencista, vigário, orientador espiritual, animador e acompanhante de muitos grupos e pessoas, tudo isso, e muito mais, fez, e continuará fazendo, do Pe. Libânio uma figura singular.

 

Capaz como poucos  de aproximar vida intelectual e experiência humana, junção tão rara quanto necessária, Pe. Libânio era leitor e ouvinte incansável dos que a ele se opunham. Nada lhe era estranho, nenhum diálogo parecia-lhe impossível. A sala de aula, os encontros nacionais e internacionais, o serviço na paróquia, a escuta pessoal, entre tantas outras atividades, eram por ele vistos como oportunidades diversas de um mesmo empenho, o de mostrar a infinita capacidade do cristianismo para dialogar com a miséria e a grandeza do nosso tempo. Longe do remetimento apressado ao dogma e longe da capitulação supostamente modernizante, a sua disposição combativa e sua alegria serena permanecem como exemplos para todos nós. Muitas vezes, quando a mera reafirmação da doutrina parecia se impor, Pe. Libânio mostrava, com firmeza e abundância de conhecimento, que a vida nascida da liberdade, essa sim, devia ser o critério decisivo. Onde o recurso ao amedrontamento, freqüente nas versões excessivamente moralistas do cristianismo, se oferecia como estratégia catequética, Pe. Libânio, escorado nas fontes mais clássicas da antropologia cristã, nos lembrava que o medo não converte ninguém.

 

Agora que está em meio ao Amor sem limites, Pe. Libânio permanece entre nós como sinal da perenidade de um cristianismo fascinado pela dignidade e pelo mistério da condição humana.

 

Ricardo Fenati