Há romances que devem ser lidos. E não porque sua leitura sirva como nossa inclusão no rol das pessoas ditas cultas. Romances, alguns grandes romances, são oportunidades raras e poderosas de autocompreensão, essa atividade para a qual contamos hoje com tão poucos recursos. Mesmo que procuremos ocultar o enigma de que somos feitos sob coisas tão banais como a expansão do consumo material ou como uma ou outra moda cultural, permaneceremos empobrecidos e isolados, reféns de uma angústia tão mais forte quanto desconhecida. 

Esses grandes romances são mapas, versões poderosas da aventura humana quando ela não se recusa caminhar na direção das grandes questões que se, de um lado, nos atemorizam, de outro, são as únicas capazes de nos humanizar. Talvez seja assim mesmo, talvez a humanidade não nos seja dada de início, mas venha como um resultado sempre inacabado de nosso desejo de desvendar a que, enfim, pertencemos, de que pátria somos originários ou a que pátria somos destinados.

Esqueça o consolo fácil, e falso, da autoajuda, abra um tempo de leitura e experimente Dostoiévski. Leia, por exemplo, Crime e Castigo, a história da oscilação entre a dor e a redenção de Raskólnikov. Não se assuste, talvez seja a nossa história.     

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola