Ideias ou a preocupação com ideias costumam não ter boa reputação entre nós. Celebramos os homens práticos, insistimos que “na prática a teoria é outra”, transferimos os que pensam para o mundo da lua e, colados no dia a dia, classificamos como utopia qualquer consideração que não vá na direção costumeira. Mas é preciso  mesmo que seja assim? Não custa lembrar que para nós, os humanos, passar sem ideias é uma destas intenções das quais o inferno está cheio. Somos animais simbólicos, o que quer dizer que vivemos no horizonte das ideias: o que comemos, como amamos, o modo como trabalhamos, a maneira como organizamos o nosso lazer, nossas relações familiares, enfim, nossas vidas são o que são pelas ideias a que, sabendo ou não aderimos.

 

Pertencer a uma sociedade humana é compartilhar ideias. Ideias, literalmente, nos humanizam. Desprovidos da imediateidade dos instintos, despossuídos das respostas com que contam as demais espécies, ideias representam o esforço com que procuramos dar conta do vazio e do desamparo que, sem cessar, nos interrogam. Cultura é o nome deste esforço e não há qualquer sociedade que tenha prescindido, ou possa prescindir, desta tarefa. Portanto, não se trata de escolher entre uma vida à luz de ideias ou uma vida, vamos chamar assim, prática. Pelo contrário, a escolha é outra: entre as várias ideias, ou melhor, entre as várias vidas possíveis, a que vida, a que tipo de vida iremos dar nossa adesão?

 

Para pensar na quinzena:

“Ah, para o prazer e para ser feliz, é que é preciso a gente saber tudo, formar alma, na consciência.” (Guimarães Rosa)

 

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

01.07.2012