É com Julius Spier, psicoquirólogo judeu, paciente e discípulo de Jung, o primeiro dos encontros de Etty Hillesum e é ele quem lhe aconselha que escreva um diário. Mais tarde, irá se referirá a ele como “o obstetra de minha alma”. Suas primeiras impressões de S., é assim que ele será nomeado ao longo do Diário, são ambíguas, mas ela se diz “...muito impressionada com seu trabalho: a avaliação dos meus conflitos mais profundos através da leitura de minha segunda face: as mãos.” Ela escreve: “Lá estava eu com um bloqueio espiritual. E ele poria ordem ao caos interior, estaria à frente das forças opostas que atuam no meu conflito interno. Ele, por assim dizer, pegou-me pela mão e disse, olhe, é assim que você tem de viver. A vida inteira tive esse desejo: se pelo menos alguém me pegasse pela mão e cuidasse um pouco de mim; pareço forte e faço tudo sozinha, mas eu gostaria tanto de poder me entregar.” A atividade terapêutica é pouco ortodoxa: ginástica, lutas, exercícios de respiração, palavras, entre outras coisas. Etty vislumbra: é isso, corpo e alma são um. Uma primeira menção a Deus, um verso de um poeta holandês:

“O mundo rola melodioso na mão de Deus, essas palavras de Verwey não me saíram da cabeça o dia inteiro. Queria eu mesma rolar na melodiosa mão de Deus.

O aprendizado de si tem início, a aventura espiritual está começando. Um dia, mais adiante, S. dirá a Etty: “Tenho a impressão de ser um ‘estado preparatório’ para um grande amor teu”.

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola