Começo de ano, hora de planos, que, na sua maioria, não serão cumpridos. Não importa, a esperança ganha da experiência, o que é sempre louvável, e, encorajados, listamos intenções. Podemos fazer isso, mas também, quem sabe, não é hora de nos voltarmos para aqueles valores que, valendo para ano que se inicia agora, valem, entretanto, sempre? A calma do começo do ano, o descanso das comemorações, desperta em nós uma disposição contemplativa, o que favorece um olhar menos preocupado com a urgência que vem do cotidiano.

 

E que valores são esses, que reclamam permanência? Vou falar de dois. O primeiro deles, acredito, é o senso de que alguma coisa nos ultrapassa, de que o mundo não começou conosco e não cessará quando partirmos. O senso de que somos criaturas. O que nos excede, entretanto, não é uma mera distância muda, indiferente à nossa inquietação, à nossa insuficiência. Pelo contrário, pertencemos, de alguma forma, ao que nos excede, estamos, também, onde nos desconhecemos. Portanto, sejamos fiéis a isso.

 

O segundo valor é o gosto da comunidade. Que não suprime nossa solidão e nem nos obriga a abdicar de todo silêncio. Mesmo que os tempos sejam difíceis, a reclusão em nós mesmos e o desprezo pelos outros nunca é justificável. Como escreveu Santiago Kovladoff, “ um mundo que provoca repulsa em quem aspira afastar-se dele é, sempre, um mundo que venceu a quem o impugna. É, em suma, um mundo que mantém encarcerado a quem se considera em condições de deixá-lo para trás”. Não nos esqueçamos que o mundo à nossa volta, na variedade de suas formas – mundo social e universo físico - é nossa oficina: nele nos formamos para nosso destino maior. Nossa mundaneidade, mais do que uma escolha, é uma vocação. Portanto, também a isso sejamos fiéis.

 

Para pensar, a mais, na quinzena:

“A experiência sobrenatural da nossa contingência é a humildade que ama e valoriza, sobretudo, nosso estado de impotência metafísica e moral diante de Deus” (Thomas Merton)

 

 

Ricardo Fenati

Equipe do Centro Loyola

01.02.2013